Por Evani Marichen Lamb Riffel

      O forno de barro espaçoso e ardente recebia formas e mais formas retangulares, compridas, feitas de lata no funileiro, recheadas de bolachas nas formas de: flores, estrelas, passarinhos, cestinhas e carinhas de Papai-Noel.

      O aroma de baunilha com raspas de limão espalhava-se pelos arredores quando a bolacha dourava, assada e crescida, macia ou crocante, dependia da receita feita. Tinha a da Tia que era com nata e ficava tão macia que desmanchava na boca. Tinha a receita da vovó que era mais crocante pois, a gordura desta bolacha era a banha de porco. Tinha a receita da sogra, que era mais sequinha e os ingredientes beiravam a economia, mas eram também deliciosas.

      O dia de fazer bolachas de Natal era trabalhoso e até a criançada ajudava porém, quando incomodavam em volta do forno ou da mesa onde abria-se a massa dando formas encantadas para as gostosas bolachinhas caseiras, levavam gritos, leves chineladas ou era a varinha de marmelo educadora que cantava. Quando alguém retrucava que era maldade bater na criançada, minha sogra dizia que a varinha dada no bumbum na hora certa,  educava com amor. Bem, a se questionar... Existe bater com amor? Fica a dúvida e a prática, ainda bem, é do passado, ufaaaaaa!!...

      O dia cheioooooo, geralmente um domingo em véspera de Natal, passava-se assando as bolachas em fornadas e mais fornadas pois, a família era numerosa. Nos Natais da vida as visitas despencavam pelas janelas e varandas da casa  e era preciso se prevenir-se com latas enormes cheias de bolachas para acompanhar o mate que ia e vinha.

      Como as bolachas tradicionalmente eram pintadas, ainda naquela mesma noite, com as bolachas fresquinhas preparava-se um glacê e açúcares multicores para colorir as gostosuras. Espalhavam-se bolachas pintadas nas mesas e balcões da casa para deixar secar o glacê até o dia seguinte.

      Acordar com o doce aroma das bolachas fresquinhas e pintadas espalhado pela casa era delicioso e único na infância da casa paterna e depois passando essa rica cultura de pais para filhos.

      A lembrança das bolachas pintadas de Natal faz morada nos aromas natalinos adormecidos para muitos, nestes tempos de comprar bolachinhas prontas no supermercado.

      "É Natal!!! Tocam os sinos da catedral!'

-Vamos por a mão na massa filha? Quero que meus netos sintam estes aromas no bordar de novas histórias ...