A USP inspira o Tiririca
Léo Rosa de Andrade Doutor em Direito pela UFSC.
Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito pela UFSC.
Psicólogo e Jornalista.
Professor da Unisul.
Em tese estamos declarados todos iguais, alguns, contudo, como já se sabe, consideram-se muito mais iguais do que outros. Pessoalmente, não creio que sejamos, objetivamente, iguais. Eu me acho mais igual do que muitos. Explico: há distâncias lamentáveis entre algumas camadas da população. Só um hipócrita diria que somos iguais. Uma parcela pequena dos brasileiros controla as vantagens, tem acesso à educação e ao que mais a vida tem de bom; outra bem grande é paupérrima, ignorante de dar dó, e só sabe o que a vida bruta lhe ensinou. Isso, eu o afirmo em boa companhia: o site do IBGE é minha testemunha.
E o Tiririca, de que lado está? Ou, quem está do lado do Tiririca? Um senhor de alcunha Tiririca foi eleito deputado federal com 1.353.820 votos. Vejo tanta gente deplorando o fato; parece até que os discursos democráticos circulantes foram traídos. Tiririca, está claro, não é exatamente um igual aos mais iguais. Ele apenas acabou acreditando nas afirmações constitucionais que asseguram a qualquer cidadão o direito de votar e ser votado. Como, mesmo não sendo muito igual, sempre pode votar, então, suponho, deduziu que podia ser votado. E foi, e virou um escândalo.
Suspeita-se até que não leia e não escreva. Pode ser, pois não é esta a situação a que se relegou boa parte do povo brasileiro? Despida, contudo, a persona de palhaço, que é apenas a sua profissão, aparece uma personalidade safa, capaz de sair-se bem diante das tantas perguntas capciosas que muita gente da imprensa lhe fez. "Questionado sobre o que faria de concreto no Congresso, disse: \'de concreto, só cimento\'" (FSP, 04out10). Não, eu não votaria nesse ladino brasileiro, o Congresso Nacional carece, antes, de estadistas ilustrados. Mas lhe reconheço o direito de ser deputado, e reconheço o direito de tantos brasileiros se identificarem com o caipora que "chegou lá".
Nada, como se vê, de extraordinário entre a gente ordinária que "votou errado" ao ter votado em seu semelhante. Vamos, então, vencido o assunto, buscar exemplo em coisa melhor, que o Brasil tem, também, gente de tarimba intelectual para ensinar ao mundo e nos inspirar. A USP, orgulho nacional, é um marco no universo do conhecimento e da reflexão, e seus mestres são uma bússola moral quando tomam alguma atitude política. Não obstante, alguns membros do seu centro mais destacado pelo saber erudito chafurdam nos piores hábitos do circo, ou do País. "Os computadores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas foram usados ilegalmente por funcionários e professores para enviar mensagens de apoio ao PT" (Veja, 06out10).
Há muita coisa importante acontecendo no Brasil. Entre os dois extremos narrados, muitas pessoas continuam com preocupações e interesses públicos. Mas temos alguns conceitos que necessitam ser vencidos, ou eles continuarão mascarando a compreensão das causas profundas das nossas mazelas institucionais. Os que têm nojo de um plebeu bem votado não percebem que as elites governantes fizeram a nossa história com uma perversa exclusão social. Nossos poderes públicos, as universidades inclusive, muitos deles estão convertidos em sindicatos de interesses, estão de costas para a nação. Eu não aposto na irracionalidade como método, mas não posso reclamar que o povo acredite que "pior do que está não fica" e vote no Tiririca.
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