logo RCN

Atenta à ameaça da gripe aviária, indústria avícola está otimista com 2017

  • - José Antônio Ribas Júnior, presidente da ACAV (crédito UQ Design).

Com otimismo moderado, expectativa de abertura de novos mercados e um uma profunda preocupação com a ocorrência da influenza (gripe) aviária no mundo, o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), José Antônio Ribas Júnior, avalia os cenários brasileiro e mundial para a carne de frango.

Santa Catarina é o melhor lugar do mundo (e tem a avicultura industrial mais avançada do planeta) para a produção de aves em razão da associação de vários fatores: sanidade, recursos humanos e vocação para a atividade. Mesmo assim, a avançada avicultura industrial catarinense enfrenta problemas - entre eles, as deficiências infraestruturais e a pesada carga tributária - para competir no mercado mundial.

O Estado barriga-verde tem mais de 17.000 suinocultores e avicultores produzindo num setor que emprega diretamente 105 mil pessoas e, indiretamente, mais de 220 mil trabalhadores com abate superior a 1 bilhão e 300 milhões de cabeças/ano. A avicultura brasileira se desenvolveu copiando o modelo de parceria produtor/indústria implantado em Santa Catarina a partir do início dos anos 1970.

QUEM É

José Antônio Ribas Júnior é considerado um dos maiores especialistas na área. Atua há 22 anos na produção de aves e suínos: 20 anos na Sadia e, agora, dois anos na JBS, onde é diretor de agropecuária das áreas de aves e suínos. Engenheiro agrônomo de formação, concluiu pós-graduação em Gestão Empresarial pela USP/Unicamp. Preside a Câmara Nacional de Integração das duas principais entidades nacionais do agronegócio - a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Desde 2002 o mundo vive sob a ameaça da influenza aviária. Hoje, em sua opinião, essa ameaça é maior ou menor? Onde avançamos, onde recuamos?

Certamente, hoje, a ameaça é maior. Mesmo que as Agroindústrias e seus sistemas de produção tenham evoluído nas ações preventivas, e isso é fato no Brasil, a ameaça é crescente. A movimentação de pessoas no mundo é cada vez maior e temos mais países com casos positivos. Esses fatos por si só geram maior probabilidade de contato. Onde recuamos? A crise financeira e política do nosso País tirou recursos dos serviços oficiais, mas, temos trabalhado com o MAPA e a CIDASC para que possamos recompor e atender as demandas do setor. Alternativas existem, por exemplo, em Santa Catarina temos uma parceria público-privada de sucesso que é o ICASA. O trabalho desenvolvido na parceria com a Cidasc e os Sindicatos Rurais permite que tenhamos no Estado um elevado nível de serviço a campo.

Como o Brasil está se mantendo longe dessa doença? O que temos de diferente em relação a outros países?

Não irei fazer julgamentos sobre a avicultura em outros países e mesmo que digam que somos privilegiados pela nossa posição geográfica, que somos agraciados pela preferência divina, afinal Deus é Brasileiro, nosso País vem construindo um modelo de produção competente e sério. Todos esses elementos, em maior ou menor proporção, contribuem. De prático, todas as empresas implementaram ações de capacitação de produtores e dos processos de produção. A conscientização das práticas de biosseguridade está presente em todas fases de produção. Blindamos o ciclo da água, fechamos com telas os aviários para evitar acessos de animais silvestres, colocamos barreiras de entrada de pessoas e veículos. Enfim, é um trabalho que fazemos há mais de 10 anos e isso nos diferencia. Sabemos que, mesmo assim, não existe risco zero. Desta forma, a persistência e constância de propósito é que podem nos ajudar a manter nossa condição de livre desta e de todas as demais doenças importantes presentes noutros países.

Como a cooperação entre indústrias avícolas, criadores de aves, governo e centros de pesquisa contribui para blindar a avicultura brasileira e catarinense contra a doença?

Somente a soma de esforços de todos estes agentes é que pode resultar em sucesso. Desde as ações preventivas até as ações de erradicação demandam a cooperação de todos. Precisamos atuar protegendo as propriedades, cumprindo os procedimentos de segurança, vigilantes nas movimentações de animais, pesquisando riscos e estratégias de atuação, estruturando monitorias e alinhando os planos de contingência. A sociedade deve cobrar, pois um episódio como este seria desastroso para a economia catarinense e brasileira por longo período. Importante saber que temos legislação sobre este tema e todos devem se adequar as Instruções Normativas (INs) que o MAPA tem implementado. Por exemplo, de imediato e prático, todos os produtores devem garantir o registro de suas granjas, conforme as INs preconizam. 

Cerca de 40 países relataram a existência de surtos da influenza aviária. Isso abre possibilidades de novos mercados para o Brasil? Ou é prematura uma avaliação?

O cenário deve favorecer aos países que estão livres. Isso nos coloca numa condição diferenciada. Somos o segundo maior produtor de frango do mundo e o maior exportador. Somando isso a nossa qualidade, o resultado é o surgimento de novas oportunidades. Mas, para que se tornem efetivas, precisamos de uma atuação forte de governo em abrir acordos comerciais e ou fortalecer acordos existentes. Precisamos colocar o Brasil em evidência neste cenário e ocupar mais espaços no mercado internacional. Estamos otimistas, pois a política externa do atual Governo tem a clareza de que temos competências e virtudes que nos permitem brigar por isso.

Nosso programa de compartimentalização é seguro?

Muito seguro, competente e pioneiro. Temos aqui os primeiros processos de produção certificados em compartimentalização. E vamos ampliar. Esta é mais uma demonstração de competência do setor. Este conceito ajuda a ampliarmos as barreiras a qualquer evento sanitário. Não é um processo simples, não é rápido, e há custos adicionais envolvidos, mas estamos trabalhando para agregar benefícios. Logo Santa Catarina terá o seu primeiro compartimento.

Fazendo um exercício de futurologia, quais seriam as consequências de um surto de influenza aviária em Santa Catarina?

Devastador para o campo e para cidade. Estamos falando de um setor que é o maior gerador de PIB do Estado. Teremos impactos econômicos imediatos, cessando as exportações por um período longo, e também, a redução do consumo interno pela perda de confiança. A drástica e obrigatória redução nos volumes de produção fará com que empresas não suportem este impacto, gerando uma queda em toda atividade econômica dependente deste setor. A rápida resposta no diagnóstico e na eliminação de focos e monitoria dos processos é que irá definir o quanto mais rápido retornaremos.

Por isso que todas as medidas de proteção devem ser rigorosamente adotadas por indústrias e criadores, vigilância sanitária e serviço de inspeção federal?

Temos relatos de países que levaram 10 anos para recuperar o nível de atividade anterior ao problema. Não podemos ficar expostos a isso. Todo investimento em prevenção e resposta deve ser feito. Cada um tem um papel relevante neste processo. Produtores e indústrias precisam adequar suas criações para que estejam protegidas e manter procedimentos que garantam esta condição. Governos federal e estadual devem atuar em vigilância, suprir necessidades de diagnóstico e monitoria dos plantéis e planos de contingência para uma resposta rápida, competente e reconhecida por todos, caso um foco ocorra.

Neste ano não teremos o tormento da escassez e do alto custo do milho que tivemos em 2016. Isso pode significar a ampliação do mercado interno com aumento do consumo de carne de frango pelos brasileiros?

A recuperação do consumo deve vir da melhoria dos indicadores da economia, fundamentalmente, da melhoria no nível de empregos. A pressão de custos que o milho imputou sobre os processos de produção trouxe um duro, mas importante, aprendizado ao setor. Estamos trabalhando com um planejamento futuro de abastecimento de grão mais adequado à nossa realidade. Isso nos permitirá evitar que situações tão extremas aconteçam. Obviamente, que eventos climáticos podem afetar este processo e nos remeter a novas crises. Aprendemos e hoje dialogamos melhor com o setor de produção de grãos. Mas a pressão de custos continua muito grande sobre o setor.

No mercado externo, em 2016, aumentamos as exportações em volume, mas os ganhos em divisas não foram correspondentes. Quais as previsões que o Senhor faz para as exportações brasileiras de carne de frango em 2017?

Hoje, das três maiores empresas de frango do mundo, duas são brasileiras. O mundo reconhece a competência brasileira em gestão e produção neste setor. Não há mais fronteiras para nosso produto. Temos marcas fortes, e, sobremaneira, precisamos continuar surpreendendo o consumidor com a qualidade e confiança dos nossos produtos. Como falei anteriormente, com uma política de relações comerciais externas adequada vamos ampliar nossa liderança nas exportações mundiais. Estamos otimistas.

MARCOS A. BEDIN

Registro de jornalista profissional MTE SC-00085-JP

Matrícula SJPSC 0172

MB Comunicação Empresarial/Organizacional

 

 

Saiba quando procurar o Procon Anterior

Saiba quando procurar o Procon

Matrículas para Ensino Médio Integrado e curso Técnico Subsequente iniciam segunda-feira no IFC Próximo

Matrículas para Ensino Médio Integrado e curso Técnico Subsequente iniciam segunda-feira no IFC

Deixe seu comentário