Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Crítico de Arte

Em priemrio lugar, o teatro brasileiro sempre foi um espaço de manifestação artística, política e social, e entre os nomes que se destacam nesse cenário, Oduvaldo Vianna Filho, popularmente conhecido como Vianinha, ocupa uma posição de destaque. Sua trajetória como dramaturgo, ator e diretor é marcada por um profundo compromisso com as questões sociais e políticas de seu tempo, especialmente com a luta pela justiça social e pelos direitos das classes populares.

De outro vértice, nascido em 1936, Vianinha cresceu em um Brasil que atravessava intensas transformações políticas e culturais. Seu pai, Oduvaldo Vianna, foi um dos principais nomes do rádio e da televisão na época, influenciando diretamente o jovem Vianinha a ingressar no meio artístico. Desde cedo, Vianinha foi atraído pelo teatro, mas sua visão nunca esteve dissociada do contexto social. Ele se formou em Filosofia na Universidade do Brasil (atual UFRJ), o que contribuiu para sua compreensão crítica da realidade ao seu redor.

Destarte, seu envolvimento com a cultura popular e o teatro político ocorreu em um momento de grande efervescência no país, entre as décadas de 1950 e 1960, quando movimentos de esquerda, como o Partido Comunista Brasileiro (PCB), influenciavam as discussões artísticas e culturais. Vianinha, com seu comprometimento ideológico, foi um dos fundadores do Teatro de Arena, um dos mais importantes grupos de teatro político do Brasil.

No Teatro de Arena, Vianinha encontrou o espaço ideal para desenvolver suas ideias sobre o papel do teatro como uma ferramenta de transformação social. O grupo propunha uma estética nova, rompendo com o teatro comercial e elitista, e promovendo um teatro voltado para as questões da classe trabalhadora e da cultura popular brasileira. Sua peça mais emblemática nesse sentido é "A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar", de 1960. Nela, Vianinha utiliza elementos da comédia para criticar o sistema capitalista e expor a exploração da classe operária. O título faz alusão direta ao conceito marxista de mais-valia, trazendo a reflexão sobre o funcionamento da economia capitalista para o palco, de forma acessível ao público popular.

Outro exemplo marcante consiste na peça "Chapetuba Futebol Clube", em que ele usa o futebol – uma das grandes paixões do povo brasileiro – como metáfora para discutir a luta de classes e as contradições sociais. Ao abordar temas populares com uma abordagem crítica, Vianinha conseguia alcançar as massas, usando o teatro como meio de conscientização política.

Ademais de seu trabalho no Teatro de Arena, Vianinha também participou ativamente do Centro Popular de Cultura (CPC), uma organização ligada à União Nacional dos Estudantes (UNE) que tinha como objetivo levar arte e cultura para as classes populares, sempre com um viés politicamente engajado. No CPC, ele colaborou com artistas como Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Carlos Lyra, sempre buscando formas de aproximar o teatro da realidade do povo brasileiro.

Apesar de sua forte atuação no teatro, Vianinha também deixou sua marca na televisão brasileira. Nos anos 70, participou da criação de um dos programas mais emblemáticos da TV brasileira, "A Grande Família", onde trouxe para o grande público as discussões sobre a vida da classe média, com um olhar sensível e crítico sobre o cotidiano do brasileiro comum.

Vianinha faleceu prematuramente em 1974, aos 38 anos, mas seu legado continua vivo. Ele é lembrado não apenas como um dos maiores dramaturgos do teatro brasileiro, mas também como um artista profundamente comprometido com as questões sociais e políticas de seu tempo. Seu trabalho mostrou que o teatro pode ser, simultaneamente, um espaço de entretenimento e de reflexão crítica, capaz de dialogar com a cultura popular sem perder de vista sua função social.

Seus textos e sua atuação são um convite permanente à reflexão sobre o papel da arte na sociedade, sobre as injustiças sociais e sobre a necessidade de um teatro que fale para o povo, sobre o povo, e com o povo. Vianinha acreditava que o teatro não devia apenas retratar a vida, mas sim transformá-la – uma crença que continua a inspirar artistas e ativistas até hoje.

Em epítome, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, foi uma figura central no teatro político brasileiro, sempre com uma abordagem crítica e engajada. Sua obra refletia a vida das classes populares e buscava oferecer não apenas entretenimento, mas também conscientização política. Sua capacidade de dialogar com a cultura popular e de transformar o teatro em uma ferramenta de luta social faz com que seu trabalho permaneça relevante até os dias atuais.

Por final, o legado de Vianinha nos lembra da importância de um teatro que não se limita a um público elitista, mas que abraça as questões do povo e busca transformações sociais profundas.