por Antonio Carlos Pereira “Bolinha”
“A Música, ela me transmite hoje sensações como eu nunca senti antes. Ela me libera de mim mesmo, ela me separa de mim mesmo... como se eu me olhasse, como se eu me percebesse de muito longe. Ao mesmo tempo ela me fortalece, e sempre após uma noite musical a minha manhã transborda de ideias e pensamentos corajosos. É como se eu estivesse mergulhado no meu elemento mais natural. A Vida sem a Música é simplesmente um erro, uma tarefa cansativa, um exílio.” (Friedrich Nietzsche)
A Música tem o dom de nos transportar no tempo e no espaço, despertando emoções e sentimentos que pareciam esquecidos. Cientistas precisaram pesquisar para descobrir o que nós mesmos já havíamos percebido, em maior ou menor intensidade: a música estimula diretamente áreas importantes do nosso cérebro. Ritmo, harmonia, melodia, variação de timbres provocam reações relacionadas a funções importantes no cérebro, como a linguagem e o controle motor. A música é utilizada por especialistas no trato de alguns problemas neurológicos.
Certa feita, enquanto eu fazia uma palestra sobre a censura às artes, uma aluna de curso universitário indagou qual seria a minha música favorita. Pergunta difícil, ponderei, afinal existem muitas melodias com as quais cada um de nós se identifica, não existe apenas uma superior a todas as outras. Exemplifico com meu cantor favorito, Roberto Carlos, que gravou uma considerável quantidade de autênticas obras-primas no cancioneiro popular. Do mesmo modo, no âmbito internacional, Elvis Presley, The Beatles e muitos outros.
Antes de responder, lembrei que na música clássica existem dezenas de composições que não podem ser esquecidas numa eventual lista das melhores, e destaco o “Concerto Brandenburguês”, de Johann Sebastian Bach. Aprecio em especial a interpretação da Orquestra Bach, de Munique, sob a regência de Karl Richter, e o som do cravo-contínuo produzido por Hedwig Bilgram no primeiro movimento (Allegro) do Concerto nº 3 tem o dom de me emocionar. Concluído em 1721, foi dedicado por ele ao Margrave (título de nobreza, equivalente a marquês ou conde da fronteira) Christian Ludwig, de Brandenburg, um dos 16 estados federais da Alemanha.
Porém, um sentimento positivo influenciou minha resposta a tal pergunta, e citei a composição que sempre me emociona, o nosso bom e velho (e sempre atual) Hino Nacional Brasileiro. A sua execução desperta em nós sentimentos patrióticos. Sua cadência melódica, repleta de trinados, ornamentos e floreios, a dinâmica com contrastes bruscos, que vão do fortíssimo ao piano, a todos impressiona. A melodia é repleta de apojaturas (ou appoggiaturas, termo italiano que significa apoiar, informando que a nota pequena precisa ser tocada de maneira muito rápida, quase junto com a nota grande).
É importante ressaltar que um hino representa um país, sendo mais um elemento constituidor da identidade nacional: ele exalta fatos acontecidos, simboliza lutas passadas, carrega a identidade de um povo e a grande responsabilidade de ser o porta-voz da nação para o restante do mundo. Além de representarem uma manifestação da nossa identidade nacional, os hinos são uma grande fonte de estudo histórico na compreensão das ideologias e questões que marcaram a construção da República Brasileira.
Francisco Manuel da Silva escreveu a melodia, dando o nome de “Hino 7 de Abril”, quando Dom Pedro I em 7 de abril de 1831 abdicou do trono de Imperador do Brasil em favor de seu filho D. Pedro de Alcântara. Até ser oficializado como Hino Nacional Brasileiro foi conhecido como “Marcha Triunfal”. Francisco, nascido no Rio de Janeiro em 1795, era multi-instrumentista, tocava violino, piano e órgão; compositor e regente, fez também modinhas, quadrilhas, valsas e lundus e em 1857 recebeu do Imperador D. Pedro II a Cruz de Cavaleiro da Ordem da Rosa.
Com letra de Joaquim Osório Duque-Estrada (1870–1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795–1865), o Hino Nacional Brasileiro é um dos símbolos oficiais da República Federativa do Brasil, conforme estabelece o art. 13, § 1.º, da Constituição do Brasil: os quatro símbolos são a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional, elementos que representam o Brasil e são reconhecidos como símbolos da soberania e identidade do país.
Também temos outros hinos pátrios: “Hino da Proclamação da República”, com música de Leopoldo Américo Miguez e letra de Medeiros e Albuquerque; “Hino à Bandeira Brasileira”, com música do maestro Francisco Braga e letra escrita pelo poeta Olavo Bilac); a “Canção do Expedicionário” com música de Spartaco Rossi e letra de Guilherme de Almeida; o “Hino da Independência do Brasil” letra escrita por Evaristo da Veiga e a melodia composta por D. Pedro I.
Vamos, todos, cantar de coração! Assim, percebo que a música favorita não é apenas a que toca nossos ouvidos, mas a que ressoa em nossa alma, desperta memórias, inspira coragem e nos conecta com algo maior que nós mesmos. Seja um concerto de Bach, uma canção popular ou o Hino Nacional, a música é sempre um convite à emoção e à identidade. No fundo, talvez não exista uma única “música favorita”, mas sim aquelas que, em determinado momento da vida, traduzem o que sentimos e nos lembram quem somos.
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