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GESTÃO DE TRÂNSITO E MOBILIDADE – Ciência e Profissão

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Em primeiro lugar, a mobilidade urbana é uma das questões centrais das sociedades contemporâneas, especialmente em contextos urbanos marcados por crescimento populacional acelerado, urbanização desordenada e insuficiência de infraestrutura de transporte. Nesse cenário, a gestão de trânsito e mobilidade se consolida como um campo interdisciplinar que exige não apenas domínio técnico, mas também um profundo comprometimento com as transformações sociais e ambientais. Ao articular ciência, tecnologia, políticas públicas e ação profissional, essa área se firma como um dos pilares do desenvolvimento urbano sustentável.

Destarte, a complexidade da mobilidade nas cidades exige que sua gestão seja entendida como um processo sistêmico e contínuo, que envolve planejamento urbano, engenharia de tráfego, comportamento social, logística, segurança viária, acessibilidade e sustentabilidade ambiental. Não se trata apenas de organizar o fluxo de veículos, mas de garantir o direito de ir e vir com equidade, segurança e eficiência. Assim, a atuação profissional na área transcende a dimensão operacional e assume um papel estratégico na formulação e implementação de políticas públicas que promovam a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Historicamente, o trânsito urbano no Brasil foi gerido sob uma perspectiva centrada no automóvel, o que contribuiu para o agravamento de problemas como congestionamentos crônicos, poluição atmosférica, ocupação desordenada do solo e exclusão de modais sustentáveis como o transporte coletivo, a bicicleta e o deslocamento a pé. A gestão pública frequentemente tratava os problemas de mobilidade de forma reativa e fragmentada, sem uma visão sistêmica e integrada. Contudo, a promulgação da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012) trouxe um novo marco conceitual ao pautar o transporte como um direito social e estabelecer diretrizes para a promoção da mobilidade sustentável.

Nesse contexto, o papel da ciência torna-se indispensável. A produção de conhecimento técnico-científico em engenharia de transportes, urbanismo, geografia, economia e sociologia, entre outras áreas, fornece as bases para o diagnóstico dos problemas e a elaboração de soluções efetivas. A análise de dados de deslocamento, o uso de sistemas inteligentes de transporte (ITS), a modelagem de tráfego e a simulação computacional de cenários são exemplos de ferramentas que passaram a integrar a rotina dos profissionais de trânsito. Além disso, a tecnologia da informação permite hoje uma gestão mais dinâmica e em tempo real da circulação viária, com uso de sensores, câmeras, aplicativos e inteligência artificial.

Por conseguinte, a “performance” na gestão de trânsito e mobilidade requer, portanto, competências múltiplas. O profissional da área deve ser capaz de interpretar mapas de tráfego, elaborar planos de mobilidade urbana, propor intervenções de engenharia viária, avaliar impactos ambientais e dialogar com a sociedade civil. A mediação entre os interesses públicos e privados, assim como entre os diversos modos de transporte, exige sensibilidade política, capacidade de negociação e forte embasamento técnico. É nesse ponto que a profissão se consolida como um exercício de responsabilidade social.

Outro aspecto essencial da gestão de mobilidade jaz a segurança viária. O Brasil figura entre os países com maior número de mortes no trânsito, o que configura uma verdadeira crise de saúde pública. A integração de ações de fiscalização, educação para o trânsito, engenharia de tráfego e atendimento pré-hospitalar é indispensável para reduzir os índices de sinistros. O conceito de “Visão Zero”, criado na Suécia e adotado por diversos países, reforça a ideia de que nenhuma morte no trânsito é aceitável e que a responsabilidade pela segurança deve ser compartilhada por todos os envolvidos, incluindo planejadores, gestores, motoristas e pedestres.

Ademais disso, a mobilidade urbana deve ser inclusiva. Um sistema de transporte eficiente é aquele que considera as necessidades de todos os cidadãos, em especial das pessoas com deficiência, idosos, crianças e populações vulneráveis. A acessibilidade deve ser tratada como princípio orientador dos projetos de mobilidade, desde a concepção das vias até o desenho dos veículos e equipamentos urbanos. Nesse sentido, o planejamento deve priorizar o transporte público de qualidade e os modos ativos, contribuindo para a redução das desigualdades e o fortalecimento do direito à cidade.

Outrossim, a pandemia de COVID-19 trouxe importantes reflexões para o campo da mobilidade urbana. A necessidade de distanciamento social e o aumento do teletrabalho impactaram diretamente os padrões de deslocamento, colocando em xeque modelos tradicionais baseados em grandes fluxos pendulares. Houve uma valorização dos deslocamentos de curta distância, o que impulsionou o conceito de “cidade de 15 minutos”, no qual os cidadãos podem acessar serviços essenciais sem grandes deslocamentos. Essa mudança paradigmática reforça a importância de um planejamento urbano que articule mobilidade e uso do solo, com foco na qualidade de vida e na sustentabilidade.

Por outro lado, os desafios da mobilidade urbana nas cidades brasileiras permanecem significativos. A precariedade do transporte coletivo, a desigualdade territorial, o financiamento insuficiente e a resistência cultural à mudança de paradigma ainda dificultam a implementação de políticas eficazes. Superar esses entraves exige não apenas investimento financeiro, mas também capacitação profissional e fortalecimento das instituições públicas. É necessário promover uma cultura de mobilidade sustentável, baseada na participação cidadã, no conhecimento técnico e no compromisso ético.

Em epítome, o futuro da gestão de trânsito e mobilidade passa pela integração de múltiplas dimensões: planejamento urbano inteligente, tecnologias inovadoras, políticas públicas intersetoriais e uma formação profissional sólida. A valorização do conhecimento científico deve caminhar junto com a valorização da prática profissional, reconhecendo o papel estratégico de engenheiros, arquitetos, urbanistas, geógrafos, sociólogos, tecnólogos e gestores públicos na construção de cidades mais humanas e resilientes.

À guisa de conclusão, a gestão de trânsito e mobilidade é mais do que uma área técnica: é um campo de atuação estratégica, onde ciência e profissão se encontram para responder a desafios urgentes do presente e do futuro. A cidade que se move bem é aquela que integra pessoas, territórios e saberes em torno de um projeto comum de bem-estar coletivo.

Por final, avançar nessa direção exige coragem política, inovação tecnológica, compromisso social e, acima de tudo, profissionais preparados e engajados com o direito à mobilidade para todos.


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