4ª FESTA DO AGRICULTOR CELEBRA A TRADIÇÃO E O ORGULHO DAS RAÍZES EM PIRATUBA |
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Crítico de Arte
Em primeiro lugar, na manhã de luz filtrada pelos vitrais da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), um espaço político foi temporariamente transformado em território sensível e simbólico: a casa das memórias. Através da iniciativa do mandato do deputado estadual Marquito, foi realizado o evento “Onde Moram as Memórias”, concebido e protagonizado pela artista Renata Hofmann.
O encontro, mais que uma exposição ou “performance”, configura-se em convocatória coletiva à escuta, à presença e ao reconhecimento da memória como um bem comum – vivo, pulsante e em disputa.
Destarte, a proposta de Hofmann foi clara e potente: criar um dispositivo artístico-político que desse lugar à memória de pessoas, territórios e práticas que têm sido sistematicamente apagadas dos registros oficiais. Através de objetos, fotografias, relatos e sons, o espaço da ALESC – usualmente dedicado à construção de narrativas normativas e hegemônicas – foi tomado por uma dramaturgia do afeto e da resistência.
No coração do evento, a instalação “Casulo de Escuta” acolheu relatos pessoais enviados previamente por mulheres atingidas por processos de deslocamento urbano, remoções forçadas e apagamentos culturais. Suas vozes ecoavam suavemente, obrigando quem se aproximava a desacelerar, a se curvar, a escutar com o corpo inteiro.
De outro vértice, Hofmann, que atua na intersecção entre arte e ecologia social, tece o projeto com base em sua pesquisa sobre memória social e justiça territorial, bem como a iniciativa do Dep. Marquito não foi apenas institucional, mas orgânica ao sentido do evento.
Por conseguinte, fica reconhecendo o papel da arte no pleito por narrativas e na produção de justiça,
“Onde Moram as Memórias” não é apenas o nome de uma exposição, mas assertiva que reverbera para além das paredes da Assembleia. Onde, de fato, moram as memórias que não cabem nos arquivos oficiais? Como garantir que elas não se percam na voracidade do tempo, dos interesses imobiliários, das políticas de esquecimento? A proposta de Hofmann, com sua delicadeza e firmeza, nos convida a reconhecer que memória não é apenas aquilo que lembramos, mas também aquilo que escolhemos preservar, cuidar e fazer viver em comum.
Ademais, a potência de “Onde Moram as Memórias” jaz justamente em sua recusa ao espetáculo e em sua aposta na criação de um tempo outro – um tempo que permite escutar aquilo que normalmente decorre despercebido.
O evento deixa marca nos corações de quem vislumbrou, como quem sussurra uma lembrança que não pode mais ser esquecida.
Por final, o evento deve continuar reverberando, nos corpos, nos territórios e nas futuras políticas de cuidado com a memória coletiva.
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