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Meritocracia, mobilidade social e religião Prof. Evandro Ricardo Guindani

Leia a história da Dona Maria (que mistura ficção e realidade) para compreender como se dá essa aliança entre política, religião e economia:
“Maria era militante assídua dos movimentos de moradia em São Paulo nos anos 1990. Maria ajudava a organizar as famílias nos cortiços para posteriormente fazermos as ocupações e lutarmos por financiamento habitacional junto ao Governo...
Maria começou a frequentar uma igreja e aos poucos parou de participar das reuniões do movimento de moradia...
Uma vizinha dela nos disse que Maria começou a acreditar que agora “Deus” era quem a ajudaria comprar sua casa própria... E que ela tinha que lutar sozinha por isso porque como filha de “Deus” ela seria recompensada pelo próprio esforço...
Maria contou que segundo seu pastor, quanto maior a oferta dada à igreja maior seria a recompensa que ela receberia na vida. A igreja de D. Maria segue a linha da teologia da prosperidade e se enquadra – dentro das ciências da religião – como neopentecostal. Essa concepção de igreja defende uma relação unilateral e individual com Deus.
Se seu filho – com 16 anos – passa a estudar a noite porque conseguiu um emprego no mercadinho do irmão Antônio, ela agradece a Deus e atribui essa “prosperidade” à sua igreja. Ela esquece de perceber que seu filho – ao contrário do filho de um rico – não está estudando pela manhã, fazendo curso de inglês à tarde e praticando uma aula de tênis ou natação.
Ao ver seu filho crescendo trabalhando como funcionário do mercadinho da esquina, casando e comprando uma moto, ela agradece pela prosperidade que está tendo na vida...
As igrejas que seguem essa linha da teologia da prosperidade se fundamentam em muitas passagens bíblicas que associam o sucesso ao esforço pessoal tais como:
“Quem planeja e trabalha com dedicação ficará rico....” - Provérbios, 21:5 (BÍBLIA, 2021)
“Você comerá do fruto do seu trabalho e será feliz e próspero” - Salmo 128:2 (BÍBLIA, 2021)
Essas frases bíblicas, muito usadas nessas igrejas, são direcionadas ao indivíduo e nunca ao coletivo. Esses fiéis sempre acreditarão que o fracasso ou sucesso será resultado única e exclusivamente de seu esforço pessoal ou falta dele.
Enfim, essa história de Dona Maria nos faz perceber que tanto nas igrejas como nas redes sociais, mídia e literatura de autoajuda, proliferam mensagens que fazem apologia ao paradigma do sucesso individual. Como já citamos anteriormente, a meritocracia é o conceito que perpassa este paradigma.
O texto acima é um trecho do livro: “O novo sucesso: uma crítica à meritocracia”, publicado pela Editora Appris. O livro, escrito por mim e minha esposa, apresenta resultados de pesquisas, estudos e vivências pessoais em mais de 20 anos de experiência na educação.
Se quiser aprofundar mais esse assunto, você pode comprar o livro no site da Editora: https://editoraappris.com.br/produto/o-novo-sucesso-uma-critica-a-meritocracia/
Prof. Evandro Ricardo Guindani
Universidade Federal do Pampa - Unipampa
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