Antonio Carlos Pereira, joaçabense, 75 anos, alfabetizado aos 6 por sua tia Natália Szubert
Desde a juventude eu coleciono discos de vinil e livros (daqueles impressos em papel) e durante a pandemia resolvi catalogar minha biblioteca caseira. Enquanto digitava títulos e autores na planilha do Excel fui rememorando: esse eu comprei numa viagem, aquele ali eu ganhei, aquele outro ficou guardado e vou lê-lo agora. Então lembrei de um livro especial, que emprestei e nunca mais voltou. Os antigos já diziam que emprestar um livro é como mandar um filho para a guerra; é difícil retornar, e quando volta vem todo “estropiado”!
E agora, ao comemorarmos a Semana Internacional do Livro, há um motivo a mais para celebrar este objeto mágico que nos leva a viajar em histórias e fantasias e perpetua personagens e lugares.
A Bíblia Sagrada é o livro mais lido, vendido e distribuído em todo o mundo. Para incentivar sua leitura orante e reflexiva, aproximando os fiéis da Palavra de Deus, a Igreja Católica instituiu setembro como o Mês da Bíblia. A escolha está ligada a São Jerônimo, responsável por traduzi-la do hebraico e do grego para o latim, na versão que ficou conhecida como “Vulgata”. Em sua homenagem, o dia 30 de setembro, memória litúrgica de São Jerônimo, marca também o encerramento do Mês da Bíblia no Brasil, recordando a dedicação desse santo padre ao estudo e à difusão das Sagradas Escrituras.
Foi no ano 1450 da nossa Era que o alemão Johannes Gutenberg talhou, em cubos de madeira, cada letra do alfabeto, em desenho invertido. Ao passar a tinta sobre eles, colocar o papel em cima e por fim prensar, apertando um contra o outro, o texto estava impresso. O livro impresso revolucionou a relação do homem com o mundo e alcançávamos, enfim, a liberdade de expressão! A tipografia com caracteres móveis expandiu e popularizou o desejo de escrever, ler, divulgar. Afinal, a escrita possibilitou que tudo seja e esteja registrado: conhecimento, sentimento, leis, invenções...
A escrita alfabética foi criada pelos fenícios, ali pelo ano 1.400 a.C., formada apenas por consoantes e os gregos criaram as vogais muito tempo depois. Alguns escrevem da direita para a esquerda, outros de cima para baixo. Alguns usam ideogramas e outros, alfabetos. O importante é que todos permitem escrever e ler. Embora sejam conhecidas mais de sete mil línguas distintas, existem aproximadamente 240 idiomas mundo afora.
As primeiras comunicações escritas de que se têm notícias são inscrições encontradas em cavernas, desenhos feitos há mais de dez mil anos. O povo sumério, considerado uma das mais antigas civilizações do mundo, ocupava a região da Mesopotâmia, atual Iraque e Kuwait, e ali era usado o sistema pictográfico, a escrita com desenhos. Essa escrita era utilizada também pelos egípcios, que há mais de 5 mil anos criaram hieróglifos ou “escrita sagrada”, como os gregos chamavam. Hieróglifo ouhieroglifo é um termo originário de duas palavras gregas: ἱερός (hierós) "sagrado", e γλύφειν (glýphein) "escrita". Apenas sacerdotes, membros da realeza e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais sagrados e mais especificamente o sistema de escrita hieroglífica do Antigo Egito, usado em monumentos e túmulos.
Na época medieval, para criar as páginas dos livros, as pessoas usavam o pergaminho, um material suave e duradouro, criado a partir da pele de animais, que pode durar mais de mil anos. A transição de pele fresca para uma superfície lisa era um processo lento e trabalhoso, pois antes que pudesse receber a escrita precisava de preparação. Era polido com pó de pedra-pomes e aplicavam um pó pegajoso, deixando a superfície receptiva a tintas e cores. As páginas eram cortadas para o tamanho ideal do livro.
As ferramentas de um escriba eram simples: as penas, ou canetas, eram feitas de penas de pássaros, encharcadas em água, secas e endurecidas com areia quente. A pena era cortada formando uma ponta dura e um rasgo aperfeiçoava a ponta, permitindo a passagem da tinta, feita de vários materiais: galhas, ou bugalhos, encontrados em carvalhos, eram costumeiramente usados para criar a tinta preta, que também podia ser feita dissolvendo uma substância de carbono. Os escribas e seus patrões valorizavam letras elegantes. Quando erravam, raspavam a superfície com uma faca. As imagens chamavam mais atenção do que o texto, mas a escrita era tão importante quanto as ilustrações.
Um pintor decorava as páginas com tinta e metais preciosos, mas só iniciava depois de terminado o trabalho do escriba. Folhas de metais preciosos, como o ouro, eram aplicadas primeiro e quando a cola secava o pintor baforava para fazer a pequena folha grudar na página e com uma escovinha retirava o excesso. Para a pintura, cada tinta era feita de um vegetal ou com minérios, moídos e dissolvidos em líquido. Por último, eram aplicadas as luzes e sombras finalizando a ilustração “iluminada”.
Quando os escribas e pintores terminavam, o manuscrito era encadernado e os cadernos de pergaminho costurados com fio de linho em suportes flexíveis, como tiras de couro. O encadernador amarrava essas fitas de couro por canais cravados em tábuas de madeira e o volume então era coberto. Geralmente era usada uma capa feita de couro, pois sem pressão o pergaminho expandiria e contrairia, com alteração da temperatura e da umidade do ar.
Para completar a obra de arte, o encadernamento poderia ser decorado com vários materiais: couro estampado em ouro, seda ou veludo; os mais elaborados – e mais caros – eram esculpidos em metal. Assim, o acabamento dependia da riqueza do patrão, do tipo de manuscrito e seu uso.
Voltando aos tempos atuais, fiz uma pesquisa com gente jovem e perguntei pela internet:
- Diga, inicialmente, pq vc gosta de ler?
- “Porque faz a gente ver que não é dono da verdade, não sabe de tudo, e pq é gostoso e interessante embarcar em fatos desconhecidos. Faz a gente ficar atento e questionar o que nos dizem. Nos torna atentos a não cair em qualquer lavagem cerebral que tentem nos persuadir, nos encoraja a sermos nós mesmos, enquanto a maioria nem sabe quem é...”
- Agora, por favor, defina o prazer da leitura.
- “O conceito do prazer da leitura se define para mim como algo terapêutico, ou seja, me dá a sensação de completar algo que está incompleto dentro do meu serviço, me conhecendo melhor, dá a segurança de poder conversar com um alto nível de conhecimento e calar quando necessário. O prazer da leitura nos dá a segurança de sermos sábios em qualquer situação, seja para transmitir um conhecimento, ajudar alguém ou ficar em silêncio em certos momentos.”
- O que vc diria para a “geração celular”
- “A leitura me dá a sensação de sentir-me um ser útil, uma pessoa que sabe resolver seus problemas sozinha e gosta de estar na sua própria companhia, quando a grande maioria não suporta ficar sozinha, ou escolhe gastar o tempo falando mal dos outros com conversas inúteis, preferindo se manter de aparência em relacionamentos tóxicos, abusivos, inseguros e sem nenhuma iniciativa de mudança quando necessário.”
Retomo a pesquisa e insisto: - Cite exemplo
– “A cantora e compositora Pitty afirma, na música Revolução Mental, que a leitura é uma guerra sem armas de fogo, ela traz consciência, pois dentro de cada mente se concentra um universo. A leitura representa informação, sua prática ajuda a ficarmos prevenidos de más influências.”
Concluo a pesquisa, indagando: - Posso usar o q Vc falou?
- “Se achares eficiente...vai fundo! A grande consequência da leitura exagerada é que às vezes ela nos torna céticos demais, questionadores demais, pois são tantas informações sobre um determinado assunto, que algumas vezes chegamos a nos perguntar em quem e no que devo acreditar. Será que era melhor não ter lido nada???”
- Mitou!
Uma pesquisa realizada em 2014 no Reino Unido com quase 2 mil pares de irmãos gêmeos revelou que o irmão que aprendera a ler mais cedo tivera pontuações mais altas em testes cognitivos. Os resultados sugerem que a capacidade de leitura desempenha papel importante no desenvolvimento intelectual.
Somos aquilo que vemos, escutamos e lemos. Quem lê coisas boas, vê coisas boas e escuta coisas boas tem muito mais chances de “dar certo” na vida. E amanhã? Tudo pode acontecer: os meios de comunicação poderão ser outros, mas a magia da palavra escrita continuará! Que o digam os visitantes do Museu da Língua Portuguesa, instalado na Estação da Luz, na capital paulista, ao observar a evolução da escrita através dos séculos.
Assim, entre pergaminhos antigos, prensas de Gutenberg, bibliotecas digitais e até conversas rápidas na internet, a leitura segue sendo um vício salutar, que cura ignorâncias, abre horizontes e nos torna mais humanos. Os livros, sejam eles feitos de pedra, pele, papel ou pixels, guardam não apenas histórias, mas também a memória da humanidade. Cabe a nós mantê-los vivos, folheando páginas ou deslizando telas, sempre com a mesma certeza: quem lê, nunca está sozinho e jamais deixa de aprender. Um bom livro pode nos transformar, despertar perguntas, fortalecer convicções e até mudar destinos. E talvez seja exatamente esse o maior encanto da leitura: ela nunca termina na última página, mas continua dentro de nós.
O TEMPO jornal de fato desde 1989:
https://chat.whatsapp.com/IvRRsFveZDiH1BQ948VMV2
https://www.facebook.com/otempojornaldefato?mibextid=ZbWKwL
https://www.instagram.com/invites/contact/?igsh=4t75lswzyr1l&utm_content=6mbjwys
https://youtube.com/@otempojornaldefato?si=JNKTM-SRIqBPMg8w
Deixe seu comentário