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O TEMPO jornal de fato

URGE RESTAURAR O ESTUDO DA SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Isagogicamente, a Sociologia do Desenvolvimento ocupou, durante décadas, um lugar central no debate intelectual e político sobre os caminhos das sociedades periféricas e semiperiféricas. Foi por meio dela que se analisaram as relações entre crescimento econômico, transformação social, industrialização, desigualdades, dependência externa e construção do Estado nacional. No entanto, nas últimas décadas, esse campo perdeu espaço nos currículos universitários, nos centros de pesquisa e no debate público, sendo frequentemente substituído por abordagens fragmentadas, tecnocráticas ou excessivamente economicistas. Diante da persistência e até do agravamento das desigualdades sociais, regionais e globais, torna-se urgente restaurar o estudo da sociologia do desenvolvimento como ferramenta crítica para compreender e transformar a realidade contemporânea.

Destarte, a Sociologia do Desenvolvimento surgiu em um contexto histórico marcado pela reconstrução do pós-guerra, pela descolonização e pela busca de modelos capazes de explicar por que algumas sociedades alcançavam altos níveis de bem-estar enquanto outras permaneciam presas à pobreza estrutural. Autores clássicos desse campo demonstraram que o desenvolvimento não é um processo linear nem meramente técnico, mas profundamente social e político. Ele envolve disputas de poder, conflitos de classe, heranças históricas, formas de dominação externa e decisões estatais que moldam trajetórias nacionais distintas. Ao deslocar o foco exclusivo do crescimento econômico para as estruturas sociais, a sociologia do desenvolvimento ofereceu uma visão mais ampla e crítica do progresso.

Contudo, a esvaziamento desse campo de estudo está associado, em grande medida, à ascensão do neoliberalismo e à hegemonia de uma visão que reduz o desenvolvimento a indicadores macroeconômicos, eficiência de mercado e atração de investimentos. Nessa perspectiva, questões como desigualdade social, precarização do trabalho, exclusão territorial, degradação ambiental e fragilidade institucional tornam-se secundárias ou tratadas como externalidades. A sociologia do desenvolvimento, ao contrário, insiste em que tais fenômenos são centrais e estruturantes, não podendo ser resolvidos sem mudanças profundas nas relações sociais e nos padrões de poder.

Por conseguinte, restaurar o estudo da sociologia do desenvolvimento é fundamental também para compreender os limites e contradições do próprio processo de globalização. A promessa de convergência entre as nações não se concretizou; o que se observa é a reprodução de hierarquias globais, novas formas de dependência tecnológica e financeira, e uma crescente vulnerabilidade dos países periféricos às crises internacionais. A sociologia do desenvolvimento fornece instrumentos analíticos para entender como essas dinâmicas globais se articulam com estruturas internas, afetando de modo desigual diferentes grupos sociais e regiões dentro de um mesmo país.

Entretanto, no contexto brasileiro e latino-americano, a relevância desse campo é ainda mais evidente. A região apresenta uma combinação persistente de modernização econômica com profundas desigualdades sociais, raciais e regionais. A sociologia do desenvolvimento permite analisar como a herança colonial, a concentração fundiária, a dependência de commodities e a fragilidade das políticas públicas moldaram um padrão de desenvolvimento excludente. Mais do que isso, oferece subsídios para pensar alternativas que articulem crescimento econômico, justiça social e soberania nacional.

Outro aspecto crucial jaz no papel do Estado no desenvolvimento. Durante muito tempo, o debate sociológico destacou a importância das instituições estatais na promoção da industrialização, da educação, da ciência e da proteção social. O enfraquecimento desse debate contribuiu para a difusão da ideia de que o Estado é necessariamente ineficiente e que o mercado pode, por si só, resolver os problemas do desenvolvimento. A sociologia do desenvolvimento resgata a compreensão de que Estados fortes, democráticos e socialmente orientados são condição essencial para trajetórias de desenvolvimento mais equilibradas e inclusivas.

Ademais disso, a restauração desse campo de estudo é vital para a formação crítica de estudantes e pesquisadores. Em vez de uma formação voltada apenas para técnicas e modelos abstratos, a sociologia do desenvolvimento estimula a reflexão histórica, comparativa e interdisciplinar. Ela convida a questionar pressupostos, a analisar experiências concretas e a compreender que o desenvolvimento é um processo aberto, sujeito a escolhas coletivas e disputas sociais. Essa perspectiva é indispensável para formar profissionais e cidadãos capazes de intervir de maneira consciente e responsável na vida pública.

Em epítome, urge restaurar o estudo da sociologia do desenvolvimento porque os desafios do século XXI — crise climática, transformações tecnológicas, novas formas de desigualdade e instabilidade política — exigem análises que vão além das soluções imediatistas. O desenvolvimento sustentável, inclusivo e democrático não pode ser pensado apenas em termos de inovação ou crescimento do PIB.

Por fim, ele requer uma compreensão profunda das estruturas sociais, dos interesses em jogo e das possibilidades de mudança social. Recolocar a sociologia do desenvolvimento no centro do debate acadêmico e político é, portanto, uma tarefa urgente para quem busca compreender o mundo tal como ele é e transformá-lo em direção a maior justiça social e dignidade humana.


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