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Crise do Agronegócio cega às Cidades

Produtores de sc foram às ruas nesta 3ª feira para fazer o último grito do campo

CRISE DE AGRICULTURA AFETA TODA ECONOMIA E LEVA PRODUTOR A FAZER ATO PÚBLICO

 

 

ÚLTIMO GRITO DO CAMPO

JOSÉ ZEFERINO PEDROZO

PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE SC (FAESC)

 

 

Crise do agronegócio chega às cidades

Produtores de SC foram às ruas na 3a feira para fazer o ÚLTIMO GRITO DO CAMPO

15/05/2006

 

     A crise do agronegócio já afeta diretamente a economia dos municípios catarinenses, mas, na terça-feira, 16, ela mostrou sua face humana: produtores de todas as regiões se concentraram simultaneamente, às 13h30min, em cinco cidades catarinenses ?  Chapecó, Campos Novos, Rio do Sul, Mafra e Araranguá ? para o ato público O ÚLTIMO GRITO DO CAMPO apoiado por cooperativas, sindicatos rurais e demais entidades do agronegócio liderados pela Federação da Agricultura e Pecuária (Faesc), pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetaesc) e pela Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc).

O maior dos cinco eventos simultâneos aconteceu em Chapecó, onde os sindicatos rurais e cooperativas agropecuárias do Oeste trouxeram milhares de produtores à praça Coronel Bertaso, no largo da Catedral Santo Antônio, no centro da cidade.

As manifestações tiveram como objetivo demonstrar à população as gravíssimas dificuldades pelas quais passa o agronegócio brasileiro. Em cada local foram reunidos de 2.000 a 3.000 produtores, houve pronunciamentos, passeatas e distribuição de panfletos com a síntese dos problemas e leitura do manifesto,  sendo preparado pelas entidades.

?O quadro é de intolerável queda de renda e empobrecimento geral?, resumiu o presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo. Os produtores estão angustiados e querem demonstrar o seu descontentamento pela falta de sensibilidade do Governo Federal em resolver a grave crise pela qual atravessa a agropecuária e chamar a atenção da sociedade para a situação de desespero do campo.

Os coordenadores operacionais do ÚLTIMO GRITO DO CAMPO ? Enori Barbieri, pela Faesc e Décio Sonaglio, pela Ocesc ? relatam que a crise do setor primário é tão grave que eles temem que muitos produtores cometam suicídio. Mostram que a grande perda de renda do setor rural em 2005 e o aprofundamento da crise em 2006 em decorrência dos preços inferiores ao custo de produção para a maioria dos produtos agropecuários inviabilizam o pagamento dos financiamentos ainda pendentes da safra passada e parte dos compromissos financeiros da safra em curso. A simples prorrogação de curto prazo mostrou-se inútil diante do atual quadro de dificuldades do setor rural. A medida saneadora para esses financiamentos seria a sua transformação em compromissos de longo prazo.

O dirigente realça que os prejuízos da agricultura em 2005 e 2006 somam R$ 30 bilhões de reais e as dívidas do agronegócio totaliza R$ 50 bilhões de reais. Estão inadimplentes 40% dos produtores, mas o volume aumentará para mais de 70% no segundo semestre. Pelo menos 100 mil empregos na área rural desapareceram com a crise.

?A questão crucial está na falta de renda em função da queda generalizada de preços e de sucessivas secas que deram grande prejuízo aos produtores. Somada a isto, a política cambial, que em curto prazo é muito boa para o consumidor, mas um desastre para a agropecuária e para o setor exportador em geral", expõem Barbieri e Sonaglio.

 

Crise de agricultura afeta toda economia e leva produtor a fazer ato público nesta 3a

 

A agricultura brasileira está passando pela pior crise dos últimos vinte anos e não existem, no curto prazo, perspectivas de melhoras. Os produtores sofreram brutal perda de renda, empobreceram e estão abandonando o campo. Há milhares de imóveis rurais à venda. Mais da metade está inadimplente com Bancos e fornecedores.

Para protestar contra o agravamento da crise que vive o setor primário da economia, milhares de produtores tomaram a praça Coronel Bertaso, no centro de Chapecó, às 13h30 desta terça-feira, 16 de maio, na manifestação ÚLTIMO GRITO DO CAMPO. O ato é organizado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) e pela Organização das Cooperativas (OCESC) e foi realizado simultaneamente (mesma data e horário) em Chapecó e outras quatro cidades: Campos Novos, Mafra, Rio do Sul e Araranguá.                 O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, analisa as origens da crise e adverte para os risco da instabilidade social no campo.

 

Qual o objetivo da manifestação o Último grito do campo?

José Zeferino Pedrozo ? É revelar para a sociedade brasileira a gravidade e a extensão da crise da agricultura e do agronegócio, alertando que essa crise afetará todos os setores da economia. O comércio, a indústria, os prestadores de serviços, os consumidores e os trabalhadores serão atingidos pelos efeitos da crise.

 

Quais os efeitos da crise? Faltarão alimentos em 2007?

Pedrozo ? Os maus resultados das duas últimas safras representaram R$ 30 bilhões de reais em prejuízos. É dinheiro que deixou de circular na economia. Por isso, o comércio vendeu menos e a indústria, em muitos segmentos, reduziu a produção. Muitos empregos desapareceram. O quadro vai piorar em 2007 porque os produtores estão reduzindo a área plantada (prova disso é que nunca foi tão baixa a venda de insumos agrícolas) e o país terá uma oferta de alimentos muito menor no próximo. Não faltará alimento, mas será necessário importar e isso significa comida mais cara e inflação em alta.

 

Desaparecerá, então, essa situação de comida farta e barata na mesa do brasileiro?

Pedrozo ? Com certeza. A comida está barata às custas da insolvência e da quebradeira dos produtores. Veja se é possível agüentar essa situação: Comparando os preços recebidos pelos produtores em maio de 2004 com maio de 2006, o preço do milho caiu 37,5% de R$ 20,00 para R$12,50 a saca; a soja caiu 53% e passou de R$ 48,00 para R$ 22,50 a saca; e o arroz teve queda de 50% e o preço baixou de R$ 33,00 para R$ 16,50 a saca.  Cotejando os preços dos produtos animais, de maio de 2005 para maio de 2006, constata-se que o preço do suíno passou de R$ 2,07 para R$ 1,50/kg (queda de 27,5%); o preço do leite passou de R$ 0,52 para R$ 0,42/litro (queda de 19%) e o preço do boi passou de R$ 2,00 para R$1, 60 o kg do animal em pé (queda de 20%).

 

Como a crise se exterioriza neste momento?

Pedrozo ? Pela inadimplência geral dos produtores com os Bancos e com fornecedores de sementes, fertilizantes, vacinas e outros insumos. A face mais terrível é o êxodo rural. Os produtores estão abandonando as zonas rurais e existem milhares de imóveis rurais à venda. A procura por emprego nas cidades cresceu.

 

Afinal, qual é a origem dessa crise e por que ela é diferente das outras crises que freqüentemente afetam a agricultura?

Pedrozo ? As origens da crise são múltiplas. Ocorreu uma brutal queda de renda do setor agrícola e a maior parte dos produtores rurais está endividada. Uma série de fatores concorre para criar um quadro de dificuldades. Estiagens em algumas regiões e excesso de chuvas em outras provocaram redução na produção agrícola. Mesmo assim, não há escassez e, no mercado mundial, há excesso de oferta de grãos. Por isso, os preços estão muito baixos e devem continuar assim por algum tempo. Por outro lado, a atual política cambial de sobrevalorização do real em relação ao dólar fez com que as exportações brasileiras perdessem competitividade: além do produto brasileiro se tornar mais caro para os compradores internacionais, as exportações agrícolas passaram a render menos aos produtores brasileiros. Para agravar esse conjunto, o Brasil perdeu em dezembro o mercado russo para as carnes suínas e Santa Catarina, maior exportador, ainda não o reconquistou. As exportações de carnes de aves também estão em baixa em razão da sinistrose mundial em torno da influenza aviária (popular gripe aviária) que surgiu em alguns países (mas não chegou ao Brasil) e provocou queda mundial no consumo. Resultado: as vendas externas de carnes de suíno e de frango também estão em baixa.

 

Questões conjunturais e estruturais também infernizam a vida do produtor rural ao criar um quadro de dificuldades múltiplas...

Pedrozo ? Os custos de produção estão excessivamente elevados e os preços dos produtos avícolas, aviltados. A carga tributária é insuportável, os juros de mercado são abusivos. A inexistência do seguro agrícola torna a atividade muito insegura. O custo Brasil é demasiado porque nossa infra-estrutura de portos e estrada está no limite operacional.

 

Quais as medidas necessárias para equacionar os problemas e permitir uma retomada de desenvolvimento sustentável no setor primário?

Pedrozo ? O mais urgente é a questão da renda. Precisamos criar mecanismos de recuperação da renda e sustentação de preços dos produtos agrícolas. Paralelamente, será necessário revolver o problema do endividamento do produtor com Bancos e fornecedores, o que não será fácil porque as dívidas da agricultura nacional somam R$ 50 bilhões de reais. Cumprida essa etapa emergencial, precisamos pensar nas chamadas medidas estruturantes para fortalecer a agricultura brasileira. Entram nesse quesito crédito, apoio à exportação, mudança da política cambial, melhoria da infra-estrutura etc.

 

Por que as entidades do agronegócio reclamam da atuação do governo na crise?

Pedrozo ? Nós temos um homem muito competente ? Roberto Rodrigues ? no comando do Ministério da Agricultura, mas o governo não prioriza a agropecuária e o agronegócio nacional. Isso é incompreensível, pois as exportações brasileiras do agronegócio, festejadas ano a ano, batem sucessivos recordes. Em 2005, atingiram US$ 43,6 bilhões, ostentando saldo comercial do setor na ordem de US$ 38,4 bilhões. As vendas externas da cadeia produtiva representam 37% das exportações totais brasileiras. Mesmo com esse resultado excepcional, o governo titubeia na hora de apoiar o setor. As medidas anunciadas para socorrer a agricultura foram muito tímidas e totalmente inócuas. É urgente priorizar a agricultura de fato e não apenas no discurso.

 

Quando acabarão essas crises cíclicas da agricultura?

Pedrozo ? A agricultura é uma atividade econômica essencial, mas vulnerável. Por isso todos os países criaram mecanismos de proteção e apoio. É vital para o bem-estar nacional que haja segurança alimentar, pois sem comida qualquer país entra em convulsão social. No Brasil, entretanto, as políticas públicas para a agricultura têm sido falaciosas. A instabilidade vai aumentar se não agirmos com rapidez e sensatez.

 

Último grito do campo

José Zeferino Pedrozo

Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC)

 

Nenhum outro setor afeta tanto o conjunto da sociedade, quando entra em crise, quanto a agricultura. Crises e anomalias no setor primário da economia podem representar escassez de alimentos, inflação, desemprego e convulsões sociais. Por isso, as nações evoluídas ? especialmente aquelas vergastadas pela fome no período pós-guerra ? criaram mecanismos de proteção e apoio que garantem um regime de segurança alimentar.

A agricultura brasileira vive uma de suas maiores, mais extensas e mais graves crises dos últimos 20 anos, cujos deletérios efeitos serão sentidos por um longo período, a partir do final deste ano. Entretanto, a banalização desse tema nos meios de comunicação de massa criou uma certa insensibilidade, uma certa indiferença tanto na opinião pública, como no governo federal.

Estamos falando de um fenômeno socioeconômico altamente desestruturante para a agricultura e o agronegócio. A diabólica associação desses fatores torna, neste momento, totalmente inviável a atividade agrícola: custos elevados, defasagem cambial, preços aviltados, insuportável carga tributária, elevados juros bancários, perdas por cheias ou estiagens, inexistência de seguro agrícola, falta de mecanismos de sustentação de preços agropecuários, importações predatórias etc. Em razão disso, mais da metade dos produtores está inadimplente e as dívidas com bancos e fornecedores ultrapassa a R$ 50 bilhões;  a grande maioria está quase totalmente sem renda pois perdeu R$ 30 bilhões nas últimas duas safras. O quadro é de intolerável queda de renda e empobrecimento geral.

    A face irônica dessa crise é que o preço da alimentação nunca esteve tão baixo, para alegria dos consumidores e, em especial, do governo, nessa fase pré-eleitoral. Os preços estão baixos, não em face de políticas agrícolas, mas em razão da falência geral e da quebradeira dos produtores que estão vendendo seus produtos a preços inferiores aos custos de produção.

Não precisa ser economista para saber que as conseqüências se farão sentir no próximo ano. A produção agrícola vai despencar (o Ministério da Agricultura já detectou uma redução de 12 milhões de hectares na área total cultivada), o desemprego aumentará (a CNA prevê 100 mil dispensas nas empresas rurais), será necessário importar alimentos, a inflação vai subir e a vida vai piorar.

Se tudo isso é previsível, por que o governo continua inoperante? Por que governo e sociedade ignoram a importância do agronegócio responsável por 40% dos empregos, 30% do PIB e 44% da pauta de exportações e maior exportador mundial de carne bovina, de frango, de soja e de frutas? Uma política agrícola minimamente eficiente poderia neutralizar parte desses efeitos, com mecanismos de sustentação dos preços agrícolas, melhoria da infra-estrutura, mudança da política cambial e sustação das importações predatórias.

Para denunciar essa situação, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e a Organização das Cooperativas de SC (Ocesc) promovem o ÚLTIMO GRITO DO CAMPO nesta terça-feira, 16 de maio, às 13h30, simultaneamente em cinco cidades catarinenses: Chapecó, Campos Novos, Rio do Sul, Mafra e Araranguá. É, de fato, nosso último e agonizante brado

 

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