Sicoob ultrapassa 9 milhões de cooperados com solidez e impacto social |
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
A segurança privada, outrora vista apenas como um conjunto de atividades operacionais voltadas à vigilância patrimonial, tem passado por uma profunda transformação nas últimas décadas. Impulsionada por avanços tecnológicos, mudanças no perfil da criminalidade, novas exigências regulatórias e uma sociedade cada vez mais preocupada com a prevenção de riscos, a gestão da segurança privada passou a exigir não apenas preparo técnico-operacional, mas também formação científica, capacidade estratégica e visão sistêmica. Nesse contexto, a segurança privada consolida-se como uma profissão regulamentada, multifacetada e essencial ao equilíbrio da ordem social e econômica.
A transformação da segurança privada em um campo profissional de conhecimento e gestão não ocorreu de forma espontânea. Resulta de uma evolução histórica e cultural, que impôs à atividade uma necessidade crescente de profissionalização. Hoje, o gestor de segurança privada é um profissional multidisciplinar, com habilidades que vão além da supervisão de equipes ou da instalação de sistemas de vigilância. Ele precisa compreender princípios de gestão de riscos, direito, psicologia, comportamento organizacional, tecnologias de monitoramento e, sobretudo, saber aplicar estratégias coerentes com o ambiente onde atua.
A atuação do gestor de segurança envolve a análise contínua de ameaças, vulnerabilidades e impactos, com o objetivo de minimizar riscos e preservar a integridade de pessoas, informações e ativos físicos. Esse processo depende de planejamento, avaliação de cenários, coordenação de recursos e interação constante com outras áreas da organização. Portanto, trata-se de uma função estratégica, que não pode mais ser exercida de maneira empírica. A profissionalização e a busca por conhecimento científico tornaram-se condições fundamentais para o desempenho eficaz dessa atividade.
A ciência da gestão de segurança privada incorpora metodologias da administração, da engenharia de segurança e da criminologia, aliando teoria e prática na formulação de políticas preventivas. Isso significa que a gestão de segurança deve estar alinhada com os objetivos institucionais da organização em que se insere, sendo integrada aos processos decisórios e às diretrizes de governança. A segurança eficaz não é a que apenas reage a eventos, mas a que antecipa e reduz probabilidades de ocorrência por meio de planejamento e inteligência.
Nesse cenário, o papel do gestor evoluiu de agente operacional para analista e estrategista. Ele precisa dominar o conceito de segurança integrada, que envolve desde o controle de acesso e monitoramento eletrônico até medidas de cibersegurança, prevenção de perdas, gerenciamento de crises e resposta a emergências. Com isso, amplia-se o campo de atuação da segurança privada, que deixa de se limitar ao ambiente físico e passa a abranger também os ambientes digitais e os riscos reputacionais.
A legislação brasileira reconhece e regulamenta a atividade de segurança privada por meio da Lei nº 14.967, de 9 de setembro de 2024, que estabelece diretrizes para funcionamento das empresas do setor, formação dos profissionais e atuação em áreas como vigilância patrimonial, escolta armada, transporte de valores e segurança pessoal. No entanto, a realidade atual exige revisões e atualizações na norma, visto que os desafios contemporâneos incluem novas formas de crime, como ataques cibernéticos, fraudes corporativas e ameaças híbridas. Tais ameaças não são contempladas de forma suficiente pela legislação vigente, evidenciando a necessidade de ampliar o reconhecimento da segurança privada como um campo de atuação técnico-científica.
A formação acadêmica em segurança privada é outro pilar essencial da profissionalização. Os cursos de graduação e pós-graduação em gestão de segurança capacitam profissionais para atuar de forma planejada, com embasamento teórico, domínio de metodologias de gestão de riscos e visão crítica das políticas públicas e privadas de segurança. O avanço da educação superior nesse campo contribui para o reconhecimento social da segurança como profissão, e não apenas como ofício.
A valorização do profissional de segurança privada também passa pela ética, pelo compromisso com a legalidade e pelo respeito aos direitos fundamentais. A atuação em conformidade com os princípios legais é indispensável para que a segurança seja uma aliada da cidadania e não um instrumento de repressão arbitrária. Assim, a formação ética deve estar no centro do perfil profissional exigido do gestor de segurança.
A integração entre segurança pública e privada é outra tendência relevante. Embora atuem em esferas distintas, ambas compartilham objetivos comuns: a preservação da ordem, a prevenção de crimes e a promoção de ambientes seguros. Em vários países, como Estados Unidos e Reino Unido, já existem modelos consolidados de cooperação entre as esferas pública e privada da segurança, com intercâmbio de informações, apoio operacional e ações conjuntas em eventos de grande porte. No Brasil, essa integração ainda é tímida, mas tem ganhado espaço em projetos-piloto, sobretudo em centros urbanos com altos índices de criminalidade.
Os desafios da segurança contemporânea também demandam o uso intensivo da tecnologia. Ferramentas como inteligência artificial, câmeras com reconhecimento facial, softwares de análise preditiva e sistemas integrados de monitoramento são aliados poderosos na prevenção e mitigação de riscos. No entanto, o uso dessas ferramentas requer capacitação, regulamentação e ética. O gestor de segurança precisa conhecer o potencial e as limitações dessas tecnologias, evitando abusos e protegendo os direitos dos cidadãos.
Em epítome, a Gestão da Segurança Privada deve ser entendida como parte integrante da gestão organizacional. Não se trata de uma função periférica ou meramente técnica, mas de um elemento estratégico, essencial à continuidade dos negócios e à proteção dos ativos mais valiosos de uma empresa: seus colaboradores, suas informações e sua reputação. O investimento em segurança não é custo, mas sim um diferencial competitivo que agrega valor às organizações e fortalece a confiança de clientes, parceiros e investidores.
Conclui-se, portanto, que a gestão da segurança privada é, hoje, uma ciência aplicada e uma profissão em plena consolidação. Exige competências múltiplas, formação contínua, responsabilidade ética e compromisso com a legalidade. Seu papel vai muito além da simples vigilância: envolve análise, estratégia, liderança e tecnologia.
Por final, reconhecer a segurança privada como ciência e profissão é um passo necessário para enfrentar os desafios de um mundo em constante transformação e cada vez mais vulnerável a riscos complexos.
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