Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santo Jornalista (MT/SC 4155)
Em primeiro lugar, o livro se constitui, sem dúvida, em um dos mais extraordinários e significativos artefatos culturais já produzidos pela humanidade. Desde as civilizações antigas até o mundo digital contemporâneo, ele tem se mantido como um símbolo de sabedoria, memória e imaginação.
Outrossim, mais do que um simples objeto que reúne palavras e ideias, o livro é um espaço de encontro entre o autor e o leitor, entre o pensamento individual e o conhecimento coletivo. Ele traduz o desejo humano de registrar experiências, preservar descobertas e perpetuar histórias, tornando-se um dos pilares da cultura e da educação. Em cada página, há um vestígio do tempo, um testemunho das transformações sociais e um convite ao exercício da reflexão.
No entanto, a trajetória do livro confunde-se com a própria história da escrita. Nas antigas civilizações da Mesopotâmia, por exemplo, o homem gravava símbolos em tábuas de argila para registrar transações comerciais, leis e narrativas mitológicas. No Egito, os rolos de papiro já permitiam um formato mais próximo do que hoje se entende por livro, difundindo textos religiosos, administrativos e literários. Com o tempo, o códice, antecessor direto do livro moderno, surgiu como uma inovação prática, possibilitando o manuseio e a leitura sequencial de páginas.
A invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, no século XV, foi um marco decisivo nesse processo, pois democratizou o acesso ao conhecimento e transformou radicalmente o modo como as ideias circulavam. A partir de então, o livro deixou de ser um privilégio de poucos e passou a alcançar camadas mais amplas da sociedade, contribuindo para o avanço do pensamento científico, filosófico e artístico.
Destarte, ao longo dos séculos, o livro consolidou-se como um espaço privilegiado de preservação do saber. Ele permitiu que as grandes obras do pensamento humano atravessassem gerações, tornando-se instrumentos fundamentais na formação intelectual das sociedades. Sem os livros, o conhecimento produzido por filósofos, cientistas e escritores teria se perdido no tempo. Graças a eles, é possível dialogar com autores de épocas distantes e compreender as origens de conceitos que moldam o presente. Cada livro é uma janela aberta para o passado, uma ponte que liga diferentes culturas e épocas, reafirmando o papel da leitura como ato de resistência contra o esquecimento.
Ademais de veículo do saber, o livro é também um instrumento de transformação pessoal. Ler é um ato que exige tempo, concentração e entrega. Ao abrir um livro, o leitor se desprende do mundo imediato e mergulha em universos simbólicos, imaginários ou argumentativos, onde pode refletir, sentir e questionar. A leitura promove o autoconhecimento, amplia a empatia e desenvolve a sensibilidade. Por meio das histórias, o leitor aprende a ver o mundo com outros olhos, a compreender realidades diversas e a reconhecer a complexidade da experiência humana. A literatura, por exemplo, não apenas entretém, mas ensina a lidar com as emoções, as perdas, os sonhos e os dilemas da existência.
Por conseguinte, o livro é uma ferramenta de crescimento interior e de formação ética, pois ensina a pensar e a sentir de maneira mais profunda.
No âmbito coletivo, o livro desempenha um papel essencial na construção da identidade cultural de um povo. Ele registra mitos, costumes, tradições e visões de mundo, garantindo a continuidade e a valorização das raízes históricas. Em cada sociedade, as bibliotecas e os arquivos literários são depositários da memória coletiva e constituem espaços de resistência contra o apagamento cultural. Através dos livros, povos oprimidos preservaram sua língua, sua fé e suas lutas, reafirmando sua existência e dignidade. O livro, portanto, é também um instrumento de liberdade, pois permite a expressão de ideias divergentes e a circulação do pensamento crítico. Muitos autores enfrentaram censura e perseguição por meio de suas obras, o que demonstra o poder que o livro exerce sobre a consciência e a transformação social.
Posto que diante das inovações tecnológicas e da crescente digitalização da informação, o livro mantém sua relevância e seu encanto. Os formatos eletrônicos ampliaram o acesso e a difusão do conhecimento, mas não substituíram o valor simbólico e afetivo do livro impresso. Há algo de singular no ato de folhear páginas, sentir o cheiro do papel e observar o desgaste das bordas que revela a passagem do tempo. O livro físico é, em si, um objeto de arte e de memória. Cada exemplar carrega marcas pessoais: anotações, dedicatórias, grifos e dobras que contam histórias paralelas à narrativa que ele contém. Esse aspecto tangível e emocional reforça a dimensão humana do livro como companheiro de vida e testemunha silenciosa de momentos e pensamentos.
Contudo, é inegável que o livro digital trouxe novos horizontes e desafios. Ele democratizou ainda mais o acesso à leitura, eliminando barreiras geográficas e econômicas, além de permitir novas formas de interação com o texto. Plataformas virtuais, audiolivros e bibliotecas digitais tornaram-se parte do cotidiano de leitores de todas as idades. Essa convivência entre o impresso e o digital revela que o essencial não está no suporte, mas na experiência que a leitura proporciona. O livro, em qualquer formato, continua a ser um espaço de encontro entre a palavra e o pensamento, entre a imaginação e a realidade.
Em tempos de excesso de informações rápidas e superficiais, o livro representa uma pausa necessária. Ele convida ao silêncio, à contemplação e ao raciocínio. Enquanto as redes sociais e os meios digitais estimulam a leitura fragmentada, o livro oferece profundidade e continuidade, qualidades cada vez mais raras em uma sociedade acelerada. Ler um livro exige paciência, e essa paciência se transforma em aprendizado. É nesse sentido que o livro se opõe à fugacidade do presente e reafirma o valor do tempo dedicado ao conhecimento e à introspecção.
Outrossim, o livro se configura em espaço de criação e de liberdade estética. Nele, o escritor encontra a possibilidade de construir mundos, inventar linguagens e expressar sua visão de maneira singular. Cada obra é um diálogo entre forma e conteúdo, entre imaginação e estrutura. O processo de escrita é um ato de coragem e generosidade, pois o autor expõe suas ideias e emoções para o julgamento do tempo e do leitor. Por sua vez, o leitor, ao interpretar a obra, recria o texto, atribuindo-lhe novos sentidos. Assim, o livro é um artefato vivo, que se renova a cada leitura e a cada geração, mantendo-se sempre atual e necessário.
Entretanto, não há civilização que não tenha desenvolvido algum tipo de livro ou registro escrito. Essa universalidade revela sua importância para a humanidade. Ele é, ao mesmo tempo, testemunho e motor da evolução cultural. Através dele, as ciências se consolidaram, as religiões se difundiram, as leis se preservaram e as artes se reinventaram. O livro é, portanto, a base sobre a qual se construiu o conhecimento humano. Sua função não é apenas conservar o passado, mas também inspirar o futuro, oferecendo novas perspectivas e desafios para o pensamento.
Em última análise, o livro é um maravilhoso artefato cultural porque sintetiza a essência do ser humano: sua capacidade de criar, comunicar e transformar. Ele é herança e promessa, memória e descoberta.
Posto que em face de todas as mudanças tecnológicas, o livro continua a exercer um fascínio inigualável, pois toca o que há de mais profundo em nós: a necessidade de compreender o mundo e de narrar a própria existência.
Em epítome, enquanto houver seres humanos dispostos a ler, escrever e sonhar, o livro continuará vivo, perpetuando-se como um dos mais preciosos legados da humanidade.
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