O que leva uma pessoa a acreditar em um ser superior e frequentar uma igreja? O que une as pessoas que frequentam a mesma igreja?

Arrisco a dizer que a motivação para ir a uma igreja e fazer parte de uma mesma comunidade religiosa nasce a partir de duas necessidades humanas. A primeira consiste na busca pelo equilíbrio, pela paz, pela felicidade. A segunda consiste no medo da morte, do sofrimento e na própria insegurança.

“Deus” na cultura ocidental condensa na sua imagem, a canalização de todo esse sentimento. Ele representa o equilíbrio, a segurança, a paz, a felicidade, saúde, o amor, que são necessidades humanas. Não tem nada de divino ou espiritual nisso. A oposição a tudo isso como a angústia, aflição, insegurança, medo, doença está condensada na ideia do demônio, diabo, ou seja, na ideia do mal.

A vida nos demonstra que nunca conseguimos atingir, na nossa finitude e limite humanos, a felicidade e o equilíbio constante. Sentimos que essa plenitude não está ao nosso alcance, parece pertencer a uma outra dimensão, localizada numa outra relidade, em um infinito. A isso as religiões nomeiam de diferentes formas: paraíso, infinito, reino de Deus, etc...

Portanto, o que leva uma pessoa a ter fé, o que une as pessoas numa igreja, é essa busca pelo infinito, pela paz e equilíbrio ilimitado. A experiência que a oração promove é a experiência de se imaginar neste local de paz e equilíbrio. Para os cristãos por exemplo, essa experiência é mediada pela figura de “Jesus” e de outras figuras como Maria, Espírito “Santo”. Ter fé nessas figuras ou se imaginar em comunhão com essas figuras é o que promove a experiência da paz, da completude, do equilíbrio. É o que promove a sensação de estar no infinito, no paraíso. E essa experiência acaba compensando o sofrimento do mundo real. Aquelas horas vivenciadas na igreja, no culto, na missa acabam por promover, tanto uma fuga da própria realidade, como também dar forças para enfrentá-la.

Você já deve ter ouvido alguem falar que sente uma paz muito grande quando participa da missa ou culto. Esse sentimento de paz resulta do lançamento de toda angúsia, tristeza, insegurança para uma dimensão infinita, para a ideia de um ser ilimitado e todo poderoso que damos o nome de Deus. O que une as pessoas a estarem no mesmo lugar, cantando, orando e contemplando? É o mesmo desejo humano que habita em cada um. O desejo pela paz, amor e felicidade infinita...

Diante disso, o filósofo Feuerbach, disse em 1841, no seu livro: “A essência do cristianismo” que “Deus é o sentimento puro, ilimitado, livre”. Para o filósofo, a ideia de “Deus” é uma construção que brota dessas necessidades humanas (por paz, amor, alegria plena), que não podem serem satisfeitas no dia-a-dia. 

Eu sempre digo, você pode acreditar, frequentar sua igreja, mas qualifique sua crença, seja reflexivo, crítico...  Assim você terá menos chance de ser fanático ou fundamentalista...

Prof. Evandro Ricardo Guindani

Universidade Federal do Pampa - Unipampa