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ESCOLA SÓCIO-AMBIENTAL DE PIRATUBA:
CONSCIENTIZAÇÃO ECOLÓGICA ALIADA À CIDADANIA
Redação e Fotografia: Jornalistas Michel Teixeira e Cristiano Mortari
Muito se fala em preservação ecológica, proteção à natureza e dos recursos naturais para garantir a sobrevivência da humanidade. Ações para estimular a consciência ambiental têm sido formas que visam minimizar os impactos ambientais, à medida que a evolução humana caminha concomitantemente com a degradação do habitat em que vivemos. Muitos pensam que as mudanças climáticas, por exemplo, não afetam as suas realidades. No entanto, da mesma forma que a globalização tem atingido não somente a comunicação, industrialização, enfim, diversos segmentos sociais, a expansão dos dilemas naturais cresce paralelamente.
Ações nesse sentido podem ser encontradas em Piratuba, município de pouco mais de 5 mil habitantes segundo último censo do IBGE, localizado no meio-oeste catarinense, terra que abriga belezas naturais encantadoras, com um renomado complexo de piscinas de água termal sulfurosa e também a Usina Hidrelétrica Machadinho que antes da confirmação do início da construção da barragem, na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, há dez anos, se preocupou em criar um estabelecimento que trabalhasse aspectos naturais. Assim, surgiu a Escola Sócio-Ambiental.
A necessária degradação do meio-ambiente para dar vida a um imenso lago que abastece a barragem para a geração de energia daria o início a um trabalho educativo com intuito de estimular a preservação da floresta nas encostas. Pioneira na região, localizada na comunidade de Alto Gramado, a Escola Sócio-Ambiental foi implantada há dois anos, desenvolve teórica e praticamente, temas relacionados à questão social, como cidadania e saúde, além de aspectos ligados a questão ambiental – solo, água, fauna e flora. A estrutura tem como base o viveiro municipal e salas de aula. Desta forma, alunos provenientes de famílias de baixa renda têm a oportunidade de conhecer o manejo no cultivo florestal, de hortas, jardins e plantas medicinais, visando fundamentar o processo educativo para a formação e integração do jovem à sociedade, tendo como resultado da ação o desenvolvimento sustentado através da interdisciplinaridade e da educação sócio-ambiental.
O modelo de desenvolvimento atual é causador de graves conseqüências ao meio ambiente, pela poluição, desmatamento, contaminação das fontes e rios por dejetos animais, uso abusivo de agrotóxicos, extinção de espécies da fauna e da flora, erosão dos solos e o destino inadequado dos resíduos sólidos urbanos e rurais.
Por outro lado, também as conseqüências sociais deste modelo, se agravam a cada dia pela falta de oportunidade aos menos qualificados, e que não têm boas condições de família e assim alimenta cada vez mais um ciclo de baixa renda e exclusão. O modelo de educação formal, pelas limitações que apresenta de pouco tempo oportunizado ao ensino e aprendizado, aliado a pouca convivência com pais e as limitações de formação, a falta de ocupação dos períodos pós-escola e a convivência de rua tendem a excluir cada vez mais essas crianças e adolescentes.
Desta forma a Escola Sócio-Ambiental tem como objetivo estimular ao adolescente a participação em uma atividade de qualificação, concomitante ao processo educativo formal, promover a convivência em grupo dos adolescentes durante as atividades educativas e laborais, oportunizar o conhecimento nas áreas agronômicas de plantio e produção de florestais, ornamentais, medicinais e olerícolas, integração junto à sociedade, a oferta e plantio de plantas ornamentais, no embelezamento da cidade e de propriedades e fornecer mudas para recuperação ambiental e uso nas propriedades.
A escola sócio-ambiental, pela forma de “aprender fazer, fazendo e entendendo”, pela formação das pessoas envolvidas no projeto, pela oportunidade de ocupação e convivência, e por trabalhar com elementos naturais como solo, água, fauna e flora e questões sociais, visa a formação de cidadãos conscientes de suas responsabilidades e direito, como forma de complementar o ensino formal e contribuir para o futuro dos alunos e da sociedade de Piratuba. Outra contribuição importante diz respeito à produção orgânica, identificação de plantas – florestais e ornamentais – hortícola e medicinais à disposição de estudantes do município e região.
A estrutura de apoio são as instalações construídas no viveiro municipal, e os adolescentes são oriundos das famílias de baixa renda, que ficam por meio período na escola sócio-ambiental, na qual tem apoio profissional para o acompanhamento, entendimento e execução de trabalhos teóricos e práticos. O tempo é dividido da seguinte maneira:
- Três períodos de atividade laboral em que são dadas noções básicas de solos, água, fauna e flora dentro de uma visão ecológica.
- Dois períodos semanais que terão reforço pedagógico das disciplinas escolares, temas ambientais e sociais.
Os trabalhos ocorrem em grupos, no período da manhã com o horário compreendido entre as 8hs às 11hs e no período da tarde das 14hs às 17hs, de segunda à sexta-feira, e a cada período com duração de 3 horas e intervalo de 30 minutos para o lanche.
Diariamente são desenvolvidas atividades educativas e laborais, porém as atividades se intercalam pelo grupo da manhã e da tarde, e somente na sexta-feira as atividades coincidirão.
Período Segunda-feira terça-feira quarta-feira quinta-feira sexta-feira
Matutino Laboral Educativo Laboral Educativo Laboral
Vespertino Educativo Laboral Educativo Laboral Educativo
O reforço escolar é realizado por um pedagogo. Cada adolescente tem direito a um lanche diariamente. Os materiais utilizados são cedidos pelas secretarias municipais de educação e de agricultura. O trabalho laboral no viveiro tem o acompanhamento de um funcionário especializado e um agrônomo. A escola funciona em tempo integral e conforme o calendário escolar do município. Estão envolvidos no projeto profissionais de pedagogia, assistente social, engenheiro agrônomo e técnico agrícola. Rotineiramente são convidados profissionais das mais diversas áreas do conhecimento para palestras, aulas ou práticas de campo. Dois funcionários exclusivos dão suporte às aulas práticas.
As parcerias para fortalecimento do projeto sócio-ambiental geram constantes incrementos para o desenvolvimento das atividades. No ano passado a prefeitura de Piratuba recebeu do Consórcio Machadinho - mantenedor da Usina Hidrelétrica Machadinho - uma área de terra numa extensão de 224.300 metros quadrados. Localizada na comunidade de Arroio Bonito, abrigará a nova escola sócio-ambiental em sede própria. O intuito dos órgãos envolvidos é tornar o local um centro de referência em desenvolvimento sustentável. Com a mudança, a escola não deverá ser de uso exclusivo dos alunos. Moradores do município e cidades da região poderão conhecer e participar dos trabalhos. Pesquisas e experiências fortalecerão a consciência ambiental.
Segundo o prefeito de Piratuba, Adélio Spanholi, a ampliação do espaço dará oportunidade para que mais pessoas conheçam e aprendam com as atividades desenvolvidas. “Não queremos somente um espaço maior, mas queremos tornar este projeto que é de sucesso, uma referência em desenvolvimento sustentável. Isso é possível e com as parcerias fechadas vamos dar mais dimensão ao trabalho, conscientizando e incentivando ainda mais as práticas ambientais”, destaca o prefeito.
A parte ocupada para construção será de aproximadamente 4 mil metros quadrados. O material a ser utilizado na edificação e preparação do terreno será não-poluente, minimizando o impacto à natureza. Spanholi faz uma avaliação do desempenho e da finalidade do projeto. Para ele a Escola Sócio-Ambiental consegue abordar os dois principais temas da humanidade, as questões social e ambiental de uma forma vivenciada, prática e objetiva. “O que a gente vê na escola é que os alunos que passam por ela mudam seus comportamentos, suas atitudes, diante da questão social e da questão ambiental que vivenciam. O trabalho que é feito pelos professores no sentido de discutir esses temas com a devida profundidade e de uma forma vivenciada, faz com se identifiquem e a discussão seja mais rica”, pontua o prefeito também engenheiro agrônomo.
O diretor-geral do Consórcio Machadinho, Duílio Diniz Figueiredo, se mostra feliz em poder participar do projeto. “Ficamos felizes em poder participar deste projeto, sendo que hoje as questões ambientais e educacionais necessitam essa atenção. O primeiro passo foi dado e temos a certeza que o projeto vai ser redimensionado agregando o oferecendo ainda mais para a região”, comenta o diretor.
Segundo dados da escola sócio-ambiental, em 2007 foram treinados 603 alunos e 125 professores. No ano seguinte, foram 310 alunos e 155 professores, ou seja, em dois anos de existência, foram treinados 913 alunos e 280 professores, num total de 1.193 pessoas, perfazendo uma média de quase cinqüenta pessoas por mês.
De acordo com a monitora da escola sócio-ambiental, Ana Paula da Motta, além dos alunos escolhidos, e na disponibilidade de vagas, podem ser incluídos no projeto alunos com aptidão em relação às questões ambientais e sociais. “Nós temos as turmas dividas em na faixa etária de 15 anos. Este ano estamos trabalhando com uma turma dos nove aos onze anos e outra de doze a quatorze anos, isso tanto no período matutino como no vespertino”, destaca a monitora. Ela destaca que os horários são definidos. “Na segunda e na terça-feira um período nós trabalhamos a questão ambiental, e no outro período na horta e na composteira, que também é o foco. Na quarta e na quinta-feira nós trabalhamos a questão social da criança, comportamento, valores, tudo que diz respeito ao ser humano. E na sexta-feira nós fizemos a junção das turmas e trabalhamos ao ar livre, ou seja, tanto a ornamentação da escola, artesanato, as visitas por que temos diversos parceiros que trabalham aqui, então isso tudo é feito na sexta-feira”, completa.
Ana Paula adianta que a teoria é trabalhada em sala de aula, a parte pedagógica, todo o desenvolvimento do conceito em si, e em seguida trabalhado ações práticas. “O tema horta nós trabalhamos primeiro em sala de aula, a questão por que plantar aquela hortaliça, como se planta, quais são as medidas do canteiro, que época a gente deve plantar, por que nessa época e não em outra, e logo em seguida nós viemos para a horta e colocamos em prática isso. A situação ambiental também, nós discutimos as questões ambientais atuais, tentamos achar soluções, e em seguida a gente tenta trazer para a nossa realidade, colocando em prática isso, modificando os nossos hábitos no dia a dia”, explica. A monitora garante que a conscientização ambiental é um processo que tem início e continuidade, mas nunca vai ter fim. “Então, no dia-a-dia a gente consegue observar a diferença, a mobilização dos alunos, a sensibilização deles, e eles conseguem modificar os hábitos através de pequenas atitudes”, finaliza.
A conscientização ambiental é estimulada de forma teórica, prática e divertida.
Plantas recebem cuidados especiais de alunos, monitores e equipe técnica.
Hortaliças cultivadas organicamente garantem mais qualidade e saúde ao consumidor.
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