Ligeirinho Recado da comunidade 7 de julho de 1983- há 40 anos da grande enchente do Rio do Peixe

7 de julho de 1983- há 40 anos da grande enchente do Rio do Peixe
Devido este semanário ter completado 34 anos no último dia 08 de julho, o qual não é novela, pois, talvez, seja perseguido por uns e adorado por outros que sabem da luta que é para manter um periódico há tanto tempo assim, inclusive, em suas páginas ficam registradas as histórias de nossa gente e de nossa terra, consequentemente, tais registros não se apagam a exemplo de outros meios de comunicação.
A seguir vamos trazer um resumo da grande cheia do Rio do Peixe, dia 07/07/1983, que poderá ler na página nº7 desta edição.
O rio não parava de subir e a chuva continuava em todo o vale. Os pedidos por socorro, não paravam de chegar à rádio.
A chuva caia constantemente sem trégua.
Uma noite de destruição, gritos, lamentos e vigília
As 21:30 chego em casa para trocar à roupa completamente encharcada pela chuva que cessou pouco antes das 19 horas, e sou recebido pela minha irmã Ailce, grávida de vários meses, que residia no vizinho município de Ouro. "Vou ficar esta noite em tua casa, se ocorrer o pior (referindo-se a ponte - caso viesse a cair) e eu tiver que ter o bebê, já estou aqui em Capinzal, pois lá em Ouro não tem hospital e nem médico".
Retorno para áreas próximas ao rio. O centro da cidade este todo alagado. Aproximo-me das pessoas que presenciavam com auxílio de lanternas e ouviam da rua Ernesto Hachmann, proximidades do frigorífico de embutidos da Perdigão a fúria das águas que estouravam as residências da rua Beira Rio. Estalos, seguidos de um estrondo abafado. Rapidamente seguia rio abaixo uma casa, outra, mais outra. Espanta-me aquilo tudo e faço coro com os que lamentam, gritam e choram ao meu lado.
O dia seguinte - o retrato de um pesadelo
Naquela noite a população das áreas centrais de Ouro e Capinzal não dormiu. Fizeram vigília. O rio subiu até o início do dia 8. A meia noite e meia ele começou a baixar. Nas esquinas das ruas 15 de Novembro com Ernesto Hachmann, praça Pedro Lélis da Rocha, largo do Terminal Rodoviário, Central Telefônica e Estação Ferroviária o rio subira 4 metros acima da pavimentação das ruas.
Clareava o dia 8 de julho, não chovia mais. Ouro e Capinzal a exemplo das cidades do vale do Rio do Peixe e das cidades do Vale do Rio Itajaí-Açu, Rio Iguaçu, Pelotas, Canoas, Uruguai passavam a contabilizar as perdas provocadas pela maior enchente da história.
Em Capinzal 96 residências desapareceram das margens do rio na rua Beira Rio. 116 famílias desalojadas. Centenas de outras famílias desabrigadas. Praticamente todo o centro comercial da cidade invadido pelas águas. Produtos e estoques perdidos. Sistema telefônico destruído, prejuízos incalculáveis.
A difícil reconstrução
O sistema de fornecimento de energia elétrica foi rapidamente restabelecido. Demorou em entrar em operação o sistema de telefonia. O governo de São Paulo enviou para Capinzal e Ouro equipe técnica da COPEL para recompor todo o sistema destruído. Ao final dos trabalhos a comunidade brindou os operários com jantar na SERP. Na oportunidade recebi um capacete de um dos técnicos como lembrança. Empregados puderam retirar o FGTS de suas contas bancárias. O governo municipal imediatamente adquiriu uma gleba de terra para construir as residências dos desabrigados. A Eletrosul disponibilizou do canteiro de obras da Usina de Foz do Areia no Paraná, várias casas e doou para o município. Formaram-se equipes de homens para lá, desmanchá-las e posteriormente reconstruí-las em Capinzal. Estava criada a Vila 7 de Julho na Cidade Alta - nome sugerido e aceito pela comunidade pelo então Secretário de Administração da época EDGAR LANCINI. Lá foram alojadas famílias que perderam suas casas na rua Beira Rio. A rua desapareceu, como também aquele núcleo habitacional e no local (40mil m2 de terreno) criou-se a área de Lazer de Capinzal. Os pilares da Ponte Irineu Borhausem receberam injeções de epóxi, para garantia de sua estrutura. A estrada de ferro foi duramente atingida naquele dia 7 de julho em toda a sua extensão já que os trilhos estavam plantados paralelamente e bem próximos ao rio. Os trens não circularam mais. Nós no rádio, passamos dias e dias, ajudando, informando, incentivando a região até ela se mostrar reconstruída. A solidariedade surgiu como o sol que retornou logo depois da catástrofe. Não posso esquecer o sistema de comunicação com radio amadores implantado em cadeia com a Rádio Capinzal, unidades estavam instaladas em veículos, nas prefeituras, nos bairros e diariamente os radioamadores ofereciam seus serviços, pois já dissemos, a telefonia convencional demorou 45 dias para estar completamente restabelecida.
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