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VOLTANDO NO TEMPO O livro “Maria Fumaça uma Volta ao Passado”, de autoria de Paulo Eliseu Santos, sobre a estrada de ferro sul do Brasil foi de muita importância para o povoado do Vale do Rio do Peixe.

O livro “Maria Fumaça uma Volta ao Passado”, de autoria de Paulo Eliseu Santos, sobre a estrada de ferro sul do Brasil foi de muita importância para o povoado do Vale do Rio do Peixe.
Fatos Históricos
O primeiro acontecimento da região ocorreu com a expulsão dos posseiros e/ ou proprietários de terras, que se localizavam no raio de quinze quilômetros que pertenciam à construtora, no Vale do Rio do Peixe.
Quando foi aprovado o decreto republicano nº305, de 07 de abril de 1890, ocorreram algumas modificações, dentre elas, um artigo estabelecendo que as terras localizadas a quinze quilômetros da linha da estrada de ferro pertenciam à empresa responsável pela conclusão do caminho de ferro. Este trecho começava em Porto União até o local denominado de Uruguai, no município de Piratuba em Santa Catarina.
Esse mesmo decreto determinou, em um dos seus artigos, que as terras localizadas nessa faixa citada fossem destinadas à colonização e exploração da riqueza vegetal nela existente.
Acontece que essa região tinha famílias que moravam nesse espaço geográfico. Alguns tinham documentos de posse das terras ocupadas, títulos da monarquia que comprovavam a propriedade da terá; com a Proclamação da República, surgem os cartórios e esses documentos perdem o seu efeito jurídico. Havia necessidade de levar esse documento para os cartórios existentes na época dos fatos, porém a maioria não conseguiu fazer isto em tempo hábil, tendo como resultado que estas terras foram consideradas devolutas.
Do ponto de vista social isso foi muito prejudicial aos antigos posseiros. Acontece que diversos posseiros tinham a sua propriedade em lugares distantes, de difícil acesso, tanto para chegar como para partir, tornando inviável cumprirem o que a lei exigia para manterem a terra, ou seja, registar a sua propriedade legalmente.
E desta forma, os antigos “donos de terras” tiveram que partir para lugares mais distantes, muitos dos quais de mais difícil acesso.
Foi um acontecimento muito doloroso para a sobrevivências dos posseiros, cujas terras, antes cultivadas, ficavam abandonadas e tomadas pela empresa responsável por construir a estrada de ferro. Muitos fazendeiros que ali tinham propriedade, aproveitaram para realizar a escritura pública das terras abandonadas, alegando que se assim não fosse feito, as terras seriam consideradas devolutas.
Essa região, de acordo com o decreto, foi concedida à Brazil Railway Company. Era uma região com muitos pinheiros araucária, o que permitiu o surgimento de diversas serrarias. Nesta área, além da grande reserva de madeira, havia campos abertos, possibilitando a atividade pecuária até próximo ao planalto serrano. A Brasil Railway tinha uma subsidiária, denominada Madeireira Lumber, localizada no norte catarinense, mais precisamente em Três Barras. Revela o escritor e historiador Nilson Thomé que:
“Em Três Barras, montou-se uma grande serraria, abrigada em diversos pavilhões, com várias serra-fitas circulares automatizadas, que tinham capacidade para serrar, num período normal de 10 horas de trabalho por dia, cerca de 300 metros cúbicos de madeira, obtendo um rendimento média de 19 tábuas de 12 polegadas por 5,60 metros de comprimento, mais o aproveitamento, totalizando mil dúzias de madeiras diversas.
Essa quase inacreditável produção era obtida em vista da rara e primorosa técnica empregada, através de apenas 800 empregados, na maioria imigrantes e descendentes destes, sendo que para obter produção idêntica, se fosse o caso, pelos meios habituais da época, seria necessário um mínimo de cinco mil homens”.
Na visão de Paulo Pinheiro Machado, a Madeireira Lumber foi a responsável pela eclosão social, ocorrido no ano de 1912, e justifica asseverando que:
“A construção da linha férrea entre União da Vitória / Porto União e Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul, concluída em 1910, e o ramal leste, que ligava União da Vitória a Rio Negro, concluído em 1913, promoveram uma ´serie de problemas para a região. A empresa concessionária responsável pela exploração da linha por 90 anos era a Brazil Railway, formada pelo magnata Percival Farqhar com a contribuição de capitais ingleses e franceses, o qual além da garantia de juros em caso de prejuízo, recebia como doação por parte do governo federal um trecho de quinze quilômetros de terras de cada margem da linha.
Nota-se que o autor cita que essa enorme faixa de terra foi doada pelo governo federal. Entre as linhas registra-se que além de receber terras do governo federal, Percival e sua empresa foram autorizadas pelo governo a explorar, por noventa anos, esse espaço geográfico.
Foi assim que surgiram as serrarias, e os posseiros e antigos proprietários foram retirados, em todos os casos no quais suas propriedades estivessem na faixa de quinze quilômetros da linha de ferro tanto do lado direito como do esquerdo do trilho de ferro. Essa determinação descontentou a maioria dos caboclos que se encontravam na área doada e já mencionada. Começou assim o conflito social na região do contestado.
Paulo Blasi posiciona-se de maneira positiva sobrea estrada de ferro afirmando que:
“O principal fator de desenvolvimento do Município de Campos Novos foi a construção da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande, que, correndo ao longo do Rio do Peixe, atravessava o Município de Campos Novos – (divisa com Porto União à Marcelino Ramos).”
Nessa zona encontravam-se as terras mais férteis, as quais, pelos baixos preços a que eram vendidas, atraiam levas de colonos nacionais, vindos na quase totalidade do Estado do Rio Grande do Sul (grande parte deles, ítalo e teulo-brasileiros).
A população do Município aumentou bastante com o desenvolvimento colonial, o que fazia dele, ainda no ano de 1940, um dos mais populosos do Estado.
Blase ficou entusiasmado com o desenvolvimento de Campos Novos, com a chegada da estrada de ferrovia naquele município. Registre, caro leitor, que Campos Novos antigamente tinha grande espaço de terra, onde havia campos abertos e propícios para a criação de gado e muares.
A chegada da estrada de ferro dinamizou ainda mais o próspero município de Campos Novos. As estações Barra Fria, Barra do Leão, Capinzal, Piratuba, Volta Grande e Uruguai, estavam em território municipal de Campos Novos.
O problema social na região e no Vale do Rio do Peixe, e parte do norte catarinense, foi agravado quando a Brazil Railway começou a demitir trabalhadores em 1909 e 1910. Com a obra sendo finalizada no Estado de Santa Catarina em dezembro de 1910, consequentemente gerou-se um elevado número de desempregados da via férrea.
A maioria deles eram oriundos do Estado de São Paulo, Bahia, Espirito Santo e alguns Estados localizados no nordeste brasileiro. Muitos não puderam retornar aos seus Estaods de origem e a solução foi adentrar mata adentro, procurando um local onde pudessem viver e sustentar a sua família.
A maioria seguiu para Taquaraçu no Município de Curitibanos, formando um aglomerado de pessoas, as quais, na maior parte, foram desalojados de suas “propriedades” que ficavam nos quinze quilômetros em linha retado “caminho de ferro”.
No ano de 1912 surge a figura de José Maria, que era curandeiro e conselheiro espiritual. Permaneceu alguns meses em Campos Novos, em diversas fazendas, onde praticava a fitoterapia. Era conhecedor de ervas medicinais, curando muitas pessoas, com um detalhe: não cobrava nada dos pacientes com poder aquisitivo baixo. Anote que antes de ir a Taquaraçu, ele teve a ideia de colocar uma farmácia do povo em Campos Novos, fato que não se realizou, porque a pedido de comerciantes do reduto de Taquaraçu, ficou uns três meses nesse reduto. No mês de agosto de 1912, por decisão e para não entrar em conflito com as autoridades de Curitibanos, retirou-se e rumou para o Território de Palmas, na região do Contestado, onde veio a óbito na batalha ocorrida em Irani.
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Aldo Azevedo / jornalista
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