Vereadores jovens de Capinzal participam de encontro estadual em Florianópolis |
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)
Primeiramente, o Dia do Gaúcho, celebrado em 20 de setembro, é uma data de forte significado para o povo do Rio Grande do Sul, marcada pela valorização da cultura, da história e dos ideais que moldaram a identidade gaúcha ao longo dos séculos. A comemoração remonta à Revolução Farroupilha, movimento que teve início em 1835 e que, durante dez anos, colocou o povo rio-grandense em confronto com o governo imperial brasileiro, numa busca por maior autonomia, justiça fiscal e respeito às peculiaridades regionais. Apesar de não ter resultado em independência duradoura, a Revolução deixou um legado profundo de bravura, resistência e amor à terra natal, que ainda hoje ecoa nas tradições mantidas com orgulho pelo povo do Sul.
De outro vértice, a figura do gaúcho, que inspira o nome da data comemorativa, está intrinsecamente ligada ao homem do campo, ao peão, ao tropeiro e ao estancieiro que ajudaram a formar o Rio Grande do Sul. Esses personagens, muitas vezes idealizados no imaginário popular, representavam um modo de vida pautado pelo trabalho árduo, pela convivência com a natureza, pela solidariedade no lombo do cavalo e pela defesa de um código de honra peculiar. Com o passar do tempo, o gaúcho passou a simbolizar mais do que apenas um habitante da campanha: tornou-se o emblema de uma identidade cultural viva, que se manifesta na culinária típica, na música nativista, na literatura regionalista, na indumentária tradicional e nos hábitos do cotidiano.
Destarte, as comemorações do Dia do Gaúcho fazem parte da chamada Semana Farroupilha, uma das maiores celebrações cívicas e culturais do Brasil. Durante esse período, milhares de pessoas se reúnem em piquetes, galpões e centros de tradições gaúchas (CTGs) para festejar as raízes do povo sul-rio-grandense. As festas são marcadas por desfiles temáticos, apresentações de danças tradicionais, declamações de poesia, churrascos, rodas de chimarrão e a reencenação de episódios históricos. A chama crioula, símbolo da continuidade e do espírito farroupilha, é acesa no início do mês e mantida até o dia 20, representando o orgulho e a resistência cultural do povo gaúcho.
Outrossim, mais do que um feriado estadual, o Dia do Gaúcho é um momento de reflexão sobre os valores que moldam a sociedade sulista. A bravura dos líderes farroupilhas, como Bento Gonçalves, Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi, é lembrada não apenas por seus feitos militares, mas pelo idealismo e pela disposição de lutar por justiça social. Ainda que a Revolução Farroupilha tenha terminado em um acordo com o Império em 1845, sem a vitória formal dos rebeldes, ela é considerada um marco de coragem e determinação, perpetuando-se como símbolo de resistência e amor à terra.
No entanto, é importante reconhecer que a celebração do Dia do Gaúcho, como qualquer manifestação cultural, deve também estar aberta à crítica e à renovação. A figura tradicional do gaúcho foi, por muito tempo, construída a partir de uma perspectiva masculina, branca e rural, deixando de lado a diversidade que compõe a população do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, cresce o debate sobre a inclusão de mulheres, negros, indígenas e pessoas urbanas na construção e representação dessa identidade. Esse movimento de ampliação do olhar não enfraquece a tradição; ao contrário, fortalece-a, tornando-a mais representativa, justa e condizente com os tempos atuais.
Ademais disso, o Dia do Gaúcho tem servido como uma ponte entre o passado e o presente, promovendo a educação histórica entre os mais jovens. As escolas do estado costumam desenvolver atividades pedagógicas ligadas à história farroupilha e aos costumes do povo gaúcho, permitindo que crianças e adolescentes conheçam de forma crítica e lúdica os eventos e os valores que marcaram essa parte do país. O ensino da cultura regional, quando bem orientado, contribui para a valorização da diversidade cultural brasileira e para a formação de cidadãos conscientes de suas raízes e responsabilidades sociais.
Entretanto, a música tradicionalista, que embala as celebrações da Semana Farroupilha, é outro pilar da manutenção da identidade gaúcha. Músico como, à guisa de exemplo, César Passarinho, Luiz Marenco, Renato Borghetti e tantos outros, levaram o som da gaita, do violão e da milonga para além das fronteiras do estado. As letras, muitas vezes poéticas e melancólicas, exaltam a terra, os costumes e os amores do gaúcho, mantendo viva a chama da tradição mesmo em tempos de acelerada modernização.
Por conseguinte, o Dia do Gaúcho se configura em mais do que um resgate do pretérito: consiste na celebração de um presente que se ancora em valores históricos e culturais para projetar um futuro de pertencimento, diversidade e continuidade.
Em epítome, em um Brasil marcado por múltiplas identidades e desafios sociais, manter vivas as tradições regionais é também uma forma de resistência cultural e afirmação da pluralidade.
Por final, o gaúcho, com sua bombacha, seu lenço, sua faca na guaiaca e sua cuia de chimarrão, segue cavalgando pelos campos reais e simbólicos do imaginário nacional, lembrando que ser gaúcho consiste, antes de tudo, em estilo de ser, de sentir e de lutar.
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