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O TEMPO jornal de fato

QUARENTA ANOS SEM TEIXEIRINHA

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Em primeiro lugar, quarenta anos depois da morte de Teixeirinha, o Rio Grande do Sul e o Brasil ainda se veem às voltas com a força de uma figura que ultrapassou o campo artístico para se tornar um símbolo cultural. Mais do que cantor e compositor, Vítor Mateus Teixeira consolidou-se como um mito popular: um artista capaz de criar pontes entre a ruralidade gaúcha e o imaginário afetivo de milhões de brasileiros. Recordar Teixeirinha quatro décadas após sua partida não é apenas revisitar a biografia de um ídolo, mas refletir sobre como sua obra se inscreveu na memória coletiva e permanece viva num país em transformação acelerada.

Destarte, a trajetória de Teixeirinha se confunde com a própria necessidade de afirmação identitária do povo gaúcho. Em uma época marcada pela expansão dos meios de comunicação de massa e pela urbanização crescente, ele soube manter viva uma estética regional que dialogava com o cotidiano de famílias inteiras. Suas composições, frequentemente inspiradas em experiências pessoais, alcançaram dimensões nacionais porque tocavam em sentimentos universais: a saudade, a luta, a perda, o orgulho das origens, o senso de dignidade diante das adversidades. Esse amálgama de fatores ajudou a transformar um menino pobre de Rolante em um dos artistas mais populares do Brasil entre as décadas de 1960 e 1980.

Configura-se impossível falar de Teixeirinha sem lembrar o impacto monumental de Coração de Luto, uma canção que, desde sua estreia, provocou debates, críticas, risos nervosos e, principalmente, comoção. Longe de ser apenas um sucesso comercial, a música se tornou um fenômeno sociocultural pela forma como expôs a dor íntima de seu autor, ao relatar a perda trágica da mãe. O público reconheceu ali uma autenticidade rara e uma coragem artística que superararam o melodrama e se converteram em potência emotiva. Com o tempo, a música passou a ser, paradoxalmente, tanto objeto de reverência quanto de paródia, revelando o quanto Teixeirinha estava incrustado no imaginário nacional, ora como figura épica, ora como personagem popular.

Contudo, reduzir Teixeirinha à sua obra mais famosa seria ignorar a amplitude de sua produção. Foram dezenas de discos, centenas de composições, além de uma surpreendente carreira cinematográfica. Seus filmes, muitos deles roteirizados e protagonizados por ele mesmo, ajudaram a consolidar um estilo peculiar de entretenimento: dramático, moralizador, repleto de valores familiares, mas também marcado por um humor espontâneo e por uma engenhosidade narrativa que dá testemunho da criatividade de um artista múltiplo. A recepção crítica, nem sempre generosa, contrasta com o entusiasmo do público, que lotava salas de cinema e consumia seus discos em escala industrial.

Por conseguinte, quarenta anos depois, é notável como sua figura permanece presente em diversas camadas da cultura popular. Seu nome ainda é citado em programas de rádio, em festejos tradicionalistas, em rodas de música e em discussões sobre a história fonográfica do país. Há quem o veja como um símbolo de resistência cultural, alguém que conseguiu impor ao mercado nacional uma estética regionalista sem abrir mão de suas raízes. Outros o compreendem como um fenômeno de massas cuja força se explica tanto pela nostalgia quanto pelo pioneirismo. Seja qual for a perspectiva, o fato é que Teixeirinha continua sendo um ponto de referência fundamental quando se fala da música sul-brasileira.

Ademais, as novas gerações, mesmo aquelas que não conviveram com o auge do artista, encontram em sua obra uma espécie de documento afetivo de um Brasil que já não existe da mesma forma. Em um tempo marcado pela fragmentação digital e pelo consumo rápido de conteúdo, sua música e seus filmes despertam curiosidade justamente por carregarem uma narrativa sincera, direta e emocional. O regionalismo que Teixeirinha representou não se restringe ao folclore: ele expressa visões de mundo, relações comunitárias e modos de vida que compõem um capítulo importante da história social brasileira.

Em epítome, relembrar Teixeirinha quarenta anos após sua morte, portanto, não é apenas um exercício de memória; é reconhecer a permanência de um artista que conseguiu transformar sua própria vida, com todas as dores, superações e alegrias, em arte acessível e profundamente humana. Sua importância não se mede apenas pelo número de discos vendidos ou pelo alcance de seus filmes, mas pela capacidade de ter emocionado gerações e de continuar provocando afetos.

Por final, Teixeirinha permanece, de algum modo, vivo naquilo que cantou: um Brasil de sentimentos fortes, de raízes profundas e de histórias que merecem ser contadas e recontadas.


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