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O TEMPO jornal de fato

SCHUMPETER E O CONCEITO DE DESTRUIÇÃO CRIADORA

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos Jornalista (MT/SC 4155)

Joseph Alois Schumpeter, economista austro-americano do século XX, usufrui em amplo reconhecimento por seu contributo singular ao paradigma do desenvolvimento econômico, sobretudo por ter introduzido o conceito de "destruição criadora". Essa expressão se tornou um dos pilares de sua interpretação da dinâmica capitalista, servindo para descrever o processo pelo qual a inovação tecnológica e organizacional impulsiona o progresso econômico, mesmo que, ao fazê-lo, desestabilize estruturas econômicas e sociais existentes. Para Schumpeter, o capitalismo não é um sistema estático, tampouco um mecanismo que caminha em linha reta. Ao contrário, ele é caracterizado por ciclos de crescimento e crise, por rupturas e renascimentos, todos motivados pela ação empreendedora e pela introdução de novas ideias que reformulam constantemente os mercados.

A destruição criadora refere-se ao processo contínuo pelo qual inovações substituem práticas obsoletas. Cada nova invenção ou modelo de negócio bem-sucedido tende a tornar-se obsoletos aqueles que o precederam. À guisa de exemplo, a disseminação dos automóveis levou ao declínio do uso de carruagens e da indústria de charretes; o avanço da fotografia digital eliminou grande parte da demanda por filmes fotográficos analógicos; as plataformas de streaming reduziram drasticamente a relevância das locadoras físicas. Esses são exemplos clássicos da tese em ação: ao criar algo, o capitalismo destrói parte do que existia antes. Todavia, essa destruição não é meramente negativa; ela é necessária para o avanço econômico e social.

Para Schumpeter, o agente central desse processo é o empreendedor inovador. Ele difere do empresário comum porque introduz uma ruptura na rotina econômica, reorganizando os fatores de produção de maneira inédita. Ao lançar um novo produto, descobrir uma nova fonte de matérias-primas, introduzir um novo método de produção ou encontrar uma nova forma de organização, o empreendedor cria um novo nicho no mercado. Esse ato de inovação gera lucros extraordinários, mas também pressiona concorrentes e setores inteiros a se adaptarem ou desaparecerem. É a ação desse tipo de agente que impulsiona os ciclos econômicos, que, na visão de Schumpeter, são marcados por ondas de inovação seguidas por fases de assimilação e acomodação.

A destruição criadora também implica uma dimensão social. Mutações tecnológicas profundas e rápidas podem gerar desemprego estrutural temporário, tensões sociais e resistência de setores que se veem prejudicados pelas transformações. Por isso, a visão de Schumpeter contrasta com perspectivas mais ortodoxas da economia que veem o equilíbrio como um estado desejável e o progresso como um processo linear. Para ele, o capitalismo avança por meio de desequilíbrios, de uma sucessão de crises que, paradoxalmente, geram crescimento e renovação. O colapso de empresas, a falência de setores e o desaparecimento de certos empregos não são desvios do sistema, mas elementos constitutivos de sua lógica interna.

Outro ponto essencial na obra de Schumpeter é sua percepção sobre o destino do próprio capitalismo. Em "Capitalismo, Socialismo e Democracia", ele argumenta que, ironicamente, o sucesso do capitalismo em gerar riqueza e eficiência acabaria por minar as bases institucionais que o sustentam. Ao criar grandes corporações, especializar o trabalho e racionalizar a economia, o capitalismo eliminaria o espaço para o empreendedor heroico e criativo, substituindo-o por burocracias e estruturas impessoais. Além disso, ao elevar o padrão de vida geral, o sistema fomentaria expectativas sociais que poderiam alimentar críticas e pressões por sua substituição por formas mais igualitárias de organização econômica, como o socialismo democrático. Nesse sentido, Schumpeter vislumbra um cenário em que a destruição criadora também poderia ameaçar o próprio sistema que a promove.

A atualidade do conceito de destruição criadora é incontestável. Em plena era digital, vemos o surgimento de tecnologias disruptivas como inteligência artificial, blockchain e biotecnologia, que têm potencial para transformar radicalmente indústrias inteiras. A economia de plataformas, por exemplo, já modificou profundamente os setores de transporte, hospedagem, entretenimento e finanças. O desaparecimento de empregos tradicionais e o surgimento de novas ocupações refletem com clareza o ciclo de substituição descrito por Schumpeter. Ainda assim, a destruição criadora hoje se manifesta em um ambiente mais globalizado, mais veloz e com impactos sociais potencialmente mais profundos do que na época em que ele formulou suas teorias.

Em síntese, o conceito de destruição criadora de Schumpeter oferece uma lente poderosa para compreender o dinamismo do capitalismo. Longe de ser uma falha ou um problema, a destruição de formas econômicas ultrapassadas é vista como uma força vital do progresso. No entanto, ela impõe desafios significativos em termos de adaptação social, política e institucional. Assim, entender e antecipar os efeitos desse processo é essencial para que se possa promover uma transição mais justa entre as fases de destruição e criação, equilibrando inovação com inclusão. Schumpeter não apenas interpretou o capitalismo de sua época, mas ofereceu uma teoria que permanece relevante para pensar os dilemas e potencialidades do presente e do futuro.


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