Por Evani Marichen Lamb Riffel Escritora, Pedagoga e psicopedagoga

      HAITI, MEADOS DE 2010, NO ALVORECER DO SÉCULO XXI, UM TERREMOTO DEVASTADOR ATINGE A CAPITAL PORTO PRÍNCIPE, COM SALDO DE APROXIMADAMENTE 100 MIL MORTOS.

      ATICE LUC VAGUEIA POR ENTRE ESCOMBROS E CORPOS INERTES, MORIBUNDOS, VITIMAS RECENTES DE MAIS UM FLAGELO NO PAÍS MAIS POBRE DA AMÉRICA, A REPÚBLICA DO HAITI. ELE PROCURA POR VIVAS ALMAS, SANGUE DO SEU SANGUE, OU POR ORA, RESTOS COMPATRIOTAS.

      O QUADRO QUE VISLUMBRA É IMENSAMENTE DEVASTADOR, POUCOS ALI SOBREVIVERAM, DE IMEDIATO UM FILME NADA CONSOLADOR PASSA POR SUA MENTE: SER MAIS UM HAITIANO VÍTIMA DA XENOFOBIA EM TERRAS DISTANTES E ESTRANHAS.

      ATICE LUC OUVIRA MUITAS E MUITAS HISTÓRIAS DRAMÁTICAS VIVIDAS POR CONTERRÂNEOS SEUS, VITIMADOS PELA DISCRIMINAÇÃO RACIAL EM DIVERSOS PONTOS DO MAPA TERRA.

 SERIA ELE MAIS UM DESIGNADO IMIGRANTE, DISCRIMINADO HISTORICAMENTE PELA COR NAS AMÉRICAS, EM TERRAS ALHEIAS A SUA NATALIDADE, CULTURA E COSTUMES DE SEU POVO?

(...)

      E, ASSIM ACONTECEU EM RESPOSTA A INTERROGAÇÃO DE MAIS UM HERDEIRO DA XENOFOBIA MUNDIAL.

      ATICE LUC JUNTOU-SE A OSIAS, TELY, MYONEL, WILLY, RICHARDSON, PIERRE, NADIA, MADELINE E SIMECK. JUNTOS FUGIRAM DA MISÉRIA DEVASTADORA DO TERREMOTO, POIS, COMO VIVIAM EM ÁREAS REMOTAS DO INTERIOR DA REPÚBLICA HAITIANA, ONDE NEM A AJUDA HUMANITÁRIA DA ONU CHEGAVA, AVENTURARAM-SE AO PAÍS BRASIL, EM BUSCA DE UMA VIDA MAIS DIGNA.

      A VIAGEM FORA UMA LOTERIA DE VIDA, MAIS UM GRUPO A ELES SE JUNTARA EM ALTO MAR. VÍTIMAS DE ACIDENTE PERDERAM A EMBARCAÇÃO QUE BATERA CONTRA UM ROCHEDO.  CLAMAVAM POR SOCORRO, ACOLHERAM-OS. A EMBACAÇÃO AGORA ESTAVA SUPERLOTADA. NA ÍNGRENE VIAGEM SÓ RESTOU O GRUPO ANTERIOR, OS DEMAIS NÃO RESISTIRAM.

      O GRUPO DE HAITIANOS CHEGOU AO BRASIL E FOI ACOLHIDO POR UMA PASTORAL HUMANITÁRIA QUE OS ALOJOU E NOS DIAS QUE SE SEGUIAM, PROCURAVAM AUXILIÁ-LOS NA PAPELADA PARA O VISTO DE CONCESSÃO DE RESIDENCIA PERMANENTE NO PAÍS.

      ERA DOMINGO E OS ESTRANGEIROS HAITIANOS PERAMBULAVAM PELA CIDADE E RESOLVERAM SENTAR-SE NO BANCO DA PRAÇA CENTRAL RELEMBRANDO AS HISTÓRIAS QUE TRAZIAM CONSIGO.

      DOCES REMINISCÊNCIAS... INTERROMPIDAS POR PROJÉTEIS CERTEIROS. O XENÓFOBO EM UMA POTENTE MOTO CINZA E PRETA, AINDA BRADOU: -FORA HAITIANOS, NEGROS SEM PÁTRIA, ROUBAM NOSSOS EMPREGOS E MANCHAM NOSSA COR.

      ATICE LUC CAMBALEIA ENTRE OS CORPOS INERTES NUM MUNDO SEM COR, MUTILADO NA CONDIÇÃO HUMANA DE MERO SOBREVIVENTE.

      "Todo ipê amarelo florido nos lembrará de que sua morte não Foi em vão, que sua história nos faça seres humanos melhores."(Saint-Fort)

AUTORA: PROFESSORA EVANI MARICHEN LAMB RIFFEL (In Viajante...eu conto teus contos)