É BOM SABER...
PORQUE NÃO FAÇO O BEM QUE QUERO, MAS O MAL QUE NÃO QUERO, ESSE FAÇO?! Paulo de Tarso
Quando refletimos sobre os ensinos de Allan Kardec, o eminente codificador da Doutrina Espírita, que nos lecionava sobre a dificuldade que trazemos em domarmos as nossas más tendências, incontinenti nos lembramos das batalhas íntimas travadas por Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, no seu célebre pensamento epigrafado “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço?” e como tão bem nos recordam os Espíritos Superiores que a natureza humana não dá saltos na sua escala evolutiva, vamos também nós, buscando a superação de nossos resquícios pretéritos, que ainda nos induzem à reação negativa diante de circunstâncias que exigiriam de nossa parte o exercício da tolerância, da paciência, da caridade, aliás da verdadeira caridade, a moral: agirmos de maneira correta à provocação alheia, mas em algumas oportunidades a provocação é apenas com relação ao nosso homem velho, eivado de más tendências, de instintos e de reações negativas. Vamos abordar um fato ocorrido para melhor exemplificarmos:
Um amigo nos relatava de que numa manhã de trabalho, a primeira ligação telefônica que fez, buscando contato com um prestador de serviço que o havia atendido dias antes, tentando informações a cerca do mesmo serviço, a telefonista da empresa, cumprindo recomendações hierárquicas tentou, gentilmente antecipar o assunto, visando talvez a solução mais rápida para o problema, evitando que o profissional envolvido desperdiçasse o seu tempo com coisas que outra pessoa pudesse resolver. Entretanto, este amigo, deveras envergonhado, depois nos dizia que não pôde controlar-se e sentiu-se ofendido pela gentil telefonista, em não querer deixar falar com a pessoa a que buscara e fora áspero e indelicado com a moça.
Reagindo, em detrimento de agir cordial e delicadamente, extravasou o seu instinto e depois da selvageria verbal, a indefesa telefonista, coagida, atendeu ao seu pedido, com peso de ordem.
Pois bem, solucionado o problema, tentou voltar à rotina do trabalho. - Se a gente pudesse lembrar sempre do jargão popular, que nos seria muito útil que diz: “Antes de abrir a boca, ligar o cérebro”.- Como este amigo não conseguiu controlar o seu instinto, logo em seguida o cérebro funcionou e a consciência também iniciou o seu trabalho,- e graças ao bom Deus este amigo demonstra claras melhorias e evidentes esforços para vencer estas reminiscências negativas,- e a cobrança da consciência não lhe deu trégua, começando a ficar até com dores de cabeça, até que resolveu ligar de novo e desculpar-se, pois não queria estragar o seu dia, nem tampouco da gentil telefonista, que agira com bom senso, mas que a essa altura também deveria estar sentida, magoada e entristecida. Após desculpar-se, ouviu até um sorriso da simpática moça, que muito lhe fez bem para o resto do dia.
Logo em seguida, ao abrir a sua caixa de mensagens eletrônicas, a primeira mensagem foi a que transcrevemos a seguir, que o deixou ainda melhor consigo mesmo, pois antes de ler a mensagem já havia tomado a decisão de ligar e desculpar-se, caso contrário, ficaria ainda mais envergonhado.
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“UM ABRAÇO, EM NOME DA VIRGEM, FAZ MARAVILHAS!
Bezerra de Menezes, o Médico dos pobres, acabava de presidir a uma das sessões públicas da Casa de Ismael, na Avenida Passos. Era uma noite de terça-feira do mês de junho de 1896. Sua palavra esclarecida e carinhosa, à moda de uma chuva fina e criadeira, no dizer de Mário Quintão, penetrava às almas de quantos, encarnados e desencarnados, lhe ouviam a evangélica dissertação sobre uma Lição do Livro da Vida!
Os olhos estavam marejados de lágrimas, tanto de ouvintes como os do próprio Orador. Acabada a sessão, descera Bezerra com passos tardos, ainda emocionado, as escadas da Federação Espírita Brasileira. E ia, humildemente, indagando-se, se ferira alguém com sua palavra, que lhe perdoassem o descuido, e ia descendo e afagando a todos que o esperavam ávidos dos seus conselhos, dos seus sorrisos, do seu olhar manso e bom. No sucedâneo da escada, localizou um irmão, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa suja e amarrotada. Os dois se olharam. Bezerra compreendeu logo que ali estava um Caso, todo particular, para ele resolver. Oh! Benditos os que têm olhos no coração! E Bezerra os tinha e os tem! E levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido:
- Dr. Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois filhos doentes e famintos... E eu mesmo, como vê, estou sem alimento e febril! Bezerra, apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde... Tornou-se mais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos já molhados de pranto para o alto e, numa Prece muda, pediu Inspiração a Maria Santíssima, seu Anjo Tutelar e solucionador de seus problemas. Depois, virando-se para o Irmão:
- Meu filho, você tem fé em Nossa Senhora? A Mãe do divino Mestre, a nossa Mãe Querida?
- Tenho e muita Dr. Bezerra!
- Pois, então, em Seu Santíssimo Nome, receba este abraço. E abraçou o desesperado Irmão, envolvente e demoradamente. E, despedindo-se:
- Vá, meu filho, na Paz de Jesus e sob a proteção do Anjo da Humanidade. E, em seu lar, faça o mesmo com todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie Nela, no Amor da Rainha do Céu, que seu Caso há de ser resolvido. Bezerra partira.
A caminho do lar, meditava: teria cumprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao irmão em prova, faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver dado senão um abraço. Não possuía dinheiro. O próprio anel de grau já não estava nos seus dedos. Já tinha sido objeto de doação para compra de remédios. Tudo havia dado. Não tendo dinheiro, dera algo de si mesmo, vibrações, bom ânimo, moeda da alma, ao irmão sofredor e não tinha certeza de que isso lhe bastara...
E, neste estado de espírito, preocupado pela sorte de um seu semelhante, chegou ao lar.
Uma semana se passara. Bezerra não se recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas alheios.
Após a sessão de outra terça-feira, descia as escadas da Federação. Alguém, no mesmo lugar da escada, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento, toca-lhe o braço e lhe diz:
- Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o abraço milagroso que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Daqui saí, logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abracei minha mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos todos à Mãe do Céu. Na água que bebemos e demos aos familiares, parece, continha alimento, pois dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos sem febre e como que alimentados... E veio-me uma inspiração, guiando-me a uma porta, que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu o meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego, no qual estou até hoje. E venho lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada de si mesmo, maior e melhor do que dinheiro!
O ambiente era tocante! Lágrimas caiam tanto dos olhos de Bezerra de Menezes como do irmão beneficiado e desconhecido.
E uma prece muda, de dois corações unidos, numa mesma força gratulatória, subiu aos Céus, louvando Aquela que é, em verdade, a Porta de nossas Esperanças, a Mãe Sublime de todas as Mães, a Advogada querida de todas as Nossas Causas!
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Diante de tamanha humildade deste Apóstolo Brasileiro, Dr. Bezerra de Menezes, ante tamanha vontade de praticar a verdadeira caridade, o questionamento que nos fazemos: Quem somos nós para nos melindrarmos à toa, por tão pouca coisa? Até quando “não levaremos desaforo para casa”? Até quando desperdiçaremos oportunidades concedidas por Deus de demonstrarmos a nossa tolerância, a nossa compreensão, perante os que nos “provocam”? São estas as arestas que necessitamos aparar, meus companheiros e companheiras, é este “homem velho” que precisamos deixar para trás e praticarmos a caridade, pois retomando o início de nossa conversa, porque aquele nosso amigo tinha que, primeiro “estourar”, agir como selvagem, para depois tomar consciência do ato falho? Não poderia ter agido corretamente já desde o início? Não, não. É porque ainda estamos acostumados a reagir negativamente, e ainda precisamos palmilhar um longo caminho para que saibamos agir, pensar e sentir corretamente. Esta é a nossa jornada, este o nosso desafio, o nosso objetivo maior: Evolução. Para que finalmente as boas atitudes sejam uma constante em nossas vidas, para enfim “fazermos o bem que queremos fazer”.
Centro Espírita Amor e Caridade – Rua José Zortéa, 204 – CAPINZAL SC.
Palestras Públicas – Segundas-feiras – a partir das 19h50min.
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